O Estado de S. Paulo, n. 47880, 19/11/2024. Economia & Negócios, p. B5

Brasil fecha acordo com a Argentina para trazer gás de Vaca Muerta

Gabriel Vasconcelos

 

 

O governo brasileiro, por meio do Ministério de Minas e Energia (MME), assinou ontem memorando de entendimento para viabilizar a chegada de gás argentino dos campos de Vaca Muerta ao mercado brasileiro. A assinatura ocorreu durante a cúpula de líderes do G-20.

O acordo prevê a criação de um grupo de trabalho com técnicos dos dois países para identificar medidas de infraestrutura que permitam a chegada do gás ao território brasileiro, no que são cogitadas a inversão do gasoduto Brasil-Bolívia, o Gasbol, ou outras rotas, menos prováveis, que passariam pela construção de novos gasodutos capazes de ligar a malha argentina diretamente ao Brasil em Uruguaiana (RS), ou atravessando os territórios do Paraguai ou do Uruguai, dizem pessoas que participaram da reunião.

No X, ontem, o ministro Alexandre Silveira (MME) disse que a importação brasileira de gás natural do vizinho deve ser feita por cinco rotas. Operadores do mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast descartaram as chances de adoção de rotas que exijam novos gasodutos. Isso porque o investimento necessário seria muito maior e teria de ser privado em função da situação “Enquanto houver demanda de petróleo, alguém vai ter de fornecer” Alexandre Silveira Ministro de Minas e Energia econômica da Argentina.

O acordo foi assinado por Silveira e pelo ministro da economia argentino, Luis Caputo, que destacou a importância da parceria, abalada desde a eleição de Javier Milei.

MÉTODO DE EXTRAÇÃO. Silveira disse ontem ser favorável à realização de estudos sobre gás oriundo de fraturamento hidráulico, o fracking, em qualquer lugar do mundo, desde que feitos corretamente.

“A questão da produção de petróleo e gás não é uma questão de oferta, mas de demanda. Enquanto houver demanda de petróleo, alguém vai ter de fornecer. Já importamos gás de fracking dos Estados Unidos, e agora vamos importar da Argentina”, disse.

O fracking é um método que possibilita a extração de combustíveis líquidos e gasosos do subsolo. Também é denominado fratura hidráulica, estimulação hidráulica ou pelo termo da língua inglesa fracking.

“Se fizermos de forma adequada e for a necessidade do Brasil, ainda defendo que tenha estudos sobre fracking em qualquer lugar do mundo até (a conclusão) de uma transição segura”, disse.

Silveira falou a jornalistas durante a Cúpula do G-20, no Rio. Ele foi questionado se sua posição sobre o fracking não contradiz a defesa brasileira para o enfrentamento das mudanças climáticas no fórum dos 20 países mais ricos do mundo. “Pelo contrário, tem bom senso”, disse, lembrando que o governo brasileiro defende uma transição energética justa e que o gás será o combustível da transição.

A expectativa do Ministério de Minas e Energia é de que, inicialmente, o Brasil importe 2 milhões de m3/dia; 10 milhões de m3/dia nos próximos três anos; e atinja 30 milhões de m3/dia até 2030, mesmo volume que a Bolívia exporta para o Brasil, mas que foi sendo reduzido devido ao esgotamento da produção boliviana.