O Estado de S. Paulo, n. 47880, 19/11/2024. Metrópole, p. A15
Ministério da Educação planeja um ‘Mais Médicos’ para os professores
Vanessa Fajardo
MEC quer docentes em áreas com déficit de profissionais, disse ministro Camilo Santana, em evento do Estadão.
A política de auxílio à docência também vai incluir uma avaliação nacional unificada “Olhar para valorização não é só remuneração. O professor é uma das mais importantes profissões no País, todos passamos por eles. Por isso, é preciso criar uma cultura para a sociedade reconhecer o papel do professor” Camilo Santana Ministro
O ministro da Educação, Camilo Santana, disse ontem que a pasta vai lançar um pacote de benefícios para valorização de professores. Entre eles está uma espécie de Mais Médicos que visa a incentivar que os docentes atuem em escolas de áreas onde existe déficit de profissionais. Também prevê um programa de transferência de renda para estimular que estudantes ingressem em cursos de licenciatura.
“Hoje temos uma deficiência grande em professores nas áreas de Física, Matemática, Química e Biologia. Vamos destinar uma bolsa a mais para o professor que queira ir para determinada região com menos professores. Nos dois primeiros anos, o MEC apoia isso”, disse o ministro durante o evento Reconstrução da Educação, realizado pelo Estadão no Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo.
O Mais Médicos é um programa federal que, desde 2013, leva profissionais de saúde para regiões de difícil acesso e alta vulnerabilidade, onde há escassez dessa mão de obra. No início, grande parte dos médicos participantes era de cubanos, mas hoje já não há mais essa predominância e profissionais brasileiros são a maioria.
“Olhar para valorização não é só remuneração. O professor é uma das mais importantes profissões no País, todos passamos por eles. Por isso, é preciso criar uma cultura para a sociedade reconhecer o papel do professor”, afirmou Santana. Ele não informou quando a iniciativa será implementada nem quais as etapas da educação básica devem ser contempladas.
PÉ-DE-MEIA.
Segundo o ministro, o estudante que fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano e quiser ingressar em curso de licenciatura no próximo ano vai receber uma bolsa e uma poupança do governo federal, nos moldes do programa Pé-de-Meia. Será necessário ter nota máxima de 650 pontos.
O atual Pé-de-Meia é um programa de incentivo financeiro-educacional voltado a estudantes matriculados no ensino médio público, com beneficiários do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). O programa funciona como uma poupança para promover a permanência e a conclusão escolar de estudantes nessa etapa de ensino. Ao comprovar matrícula e frequência, o estudante recebe o pagamento mensal de R$ 200.
Santana também mencionou que o governo federal pretende incentivar a sociedade civil e empresas privadas como um todo para criar um pacto para valorização dos professores, firmando políticas de desconto em hotéis e livrarias, por exemplo. O pacote ainda prevê ações de valorização dos docentes que já estão em atuação, como programas que facilitam a condição de acesso a livros e computadores.
A política também vai incluir uma avaliação nacional unificada, a partir da prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), para melhorar a qualidade da seleção dos profissionais que ingressam nas redes locais de ensino. A adesão a esse “Enem dos professores” deverá ser facultativa para Estados e municípios, que também poderão manter os processos seletivos próprios.
O evento Reconstrução da Educação, promovido pelo Estadão, tem por objetivo discutir caminhos para uma escola pública de qualidade. Nesse sentido, houve uma série de debates no último mês, com transmissão online. O evento presencial, ontem, contou com painéis de especialistas que analisaram desde educação infantil e ensino integral até formação docente e educação tecnológica.