Título: Nova alta de juros irrita indústria
Autor: Janaína Leite e Simone Cavalcanti
Fonte: Jornal do Brasil, 18/11/2004, Economia, p. A17

Banco Central eleva taxa básica pelo terceiro mês consecutivo, para 17,25% ao ano. Para Fiesp, decisão ''frustra a sociedade''

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou ontem a taxa básica de juros (Selic), de 16,75% para 17,25% ao ano, sem viés. A decisão, unânime, foi anunciada pouco depois das 20h, mais de três horas e meia depois do início da segunda etapa da reunião do comitê, e acompanhou as apostas do mercado. A terceira elevação consecutiva dos juros, às vésperas da injeção de bilhões de reais do 13º salário na economia, irritou empresários. ''A indústria assiste, com preocupação, ao aprofundamento do aperto monetário'', afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, por meio de nota. ''A alta em seqüência dos juros pode comprometer esse ambiente com impacto negativo para o crescimento futuro''.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, foi na mesma direção:

''A decisão do Copom, mais uma vez, frustra a sociedade brasileira. O aumento da taxa Selic mantém os juros básicos do país em um dos mais altos patamares de todo o mundo'', afirmou, também em nota, cobrando mais austeridade fiscal. ''A única alternativa coerente é o controle de gastos do governo. Analisando dados do Tesouro Nacional, de janeiro a setembro de 2004, a receita aumentou 10,6% acima da inflação e as despesas cresceram 12,6%. É preciso mais controle fiscal, menos alta de juros''.

O encontro do Copom marcou a estréia de Rodrigo Azevedo à frente da diretoria de Política Monetária. Ele, em conjunto com os outros sete diretores e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, determinaram os rumos da taxa.

O perfil mais conservador de Azevedo e as informações passadas por meio da ata da última reunião do Copom, divulgada no mês passado e que apontava para a continuidade do aperto monetário, ajudaram a alimentar a aposta do mercado de que a alta seria de 0,5 ponto percentual. Com a alta, a taxa volta quase ao mesmo patamar de novembro de 2003, quando estava em 17,5% ao ano.

Os motivos alegados para a elevação só serão conhecidos na ata da reunião que será divulgada na quinta-feira da próxima semana. No documento do mês passado, os integrantes do Copom deixaram claro que dariam continuidade ao ''processo de ajuste moderado'' da Selic. A justificativa foi a longa permanência das cotações do petróleo no mercado internacional em patamares mais elevados.

Os juros básicos servem como parâmetro para negócios financeiros e são usados pelo BC para desacelerar a economia e controlar a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, do IBGE, referência oficial de inflação) acumula, no ano, alta de 5,95% - acima do centro da meta estipulada para o período, de 5,5% para 2004. Por isso, a maioria dos economistas crê que o Brasil terminará este ano próximo ao limite máximo da meta, fixado em 8%.

Parte dos analistas apostava, no entanto, na possibilidade de o BC promover uma alta de 0,25 nos juros, devido à queda das cotações do petróleo. Mas o impacto do recente aumento dos combustíveis pressionou outro indicador importante, o Índice Geral de Preços 10 (IGP-10), da Fundação Getulio Vargas, que fechou novembro em 0,83%. Em outubro, o IGP-10 tinha ficado em apenas 0,23%. Tanto no varejo como no atacado, os aumentos dos combustíveis pressionaram a inflação. O Índice de Preços por Atacado (IPA, 60% do IGP-10) subiu de 0,25% para 1,02%.

- Uma inflação estável seria na casa de 0,4% ao mês no atacado - disse Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV.