O Globo, n. 32.295, 07/01/2022. Política, p. 6

Exército recomenda vacinação e prevê punição por fake news
Jussara Soares



Em meio ao aumento de casos de Covid-19 no país, provocado pelo avanço da variante Ômicron, o comando do Exército divulgou novas orientações aos militares a respeito da pandemia de coronavírus. No documento, o comandante da Força, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, recomenda que militares se vacinem para o retorno ao trabalho de forma presencial, mantenham o distanciamento social e o uso de máscara. As indicações representam um contraponto à postura do presidente Jair Bolsonaro, que circula frequentemente sem o acessório e dá reiteradas declarações contra a imunização. A diretriz ainda prevê punição aos integrantes da Força que divulgarem fake news.

O documento de oito páginas, assinado pelo comandante na segunda-feira, reconhece que o avanço da vacinação permite a possibilidade da normalização das atividades. Entre os 52 itens do texto, o Exército destaca que o retorno ao trabalho deve ser avaliado desde que respeitado o período de 15 dias após a imunização. “Os casos omissos sobre cobertura vacinal deverão ser submetidos à apreciação do DGP (Departamento Geral do Pessoal), para adoção de procedimentos específicos”, diz o texto. 

Medidas protetivas

Entretanto, segundo O GLOBO apurou, apesar de recomendada, a imunização não será obrigatória, e o Exército ainda estuda como será o retorno daqueles que se recusarem a tomar as doses. A questão se concentra principalmente entre os civis que atuam na Força, uma vez que, com exceção de casos de militares em atividades administrativas, a maior parte seguiu a atuação em campo.

Em outro ponto, a diretriz orienta a continuidade de medidas protetivas como o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos. Segundo o Exército, as regras seguem as orientações dos ministérios da Defesa, Saúde e Economia, mas também as particularidades e legislação regionais, no âmbito dos Comandos Militares de Áreas.

Para militares e servidores civis em viagem internacional, a orientação é que realizem um teste molecular (PT-PCR) até 72 horas antes do embarque, mesmo sem sintomas. Ao chegar no Brasil, caso haja sintomas compatíveis com a Covid-19, um novo exame deverá ser realizado.

A diretriz ainda observa que medidas de prevenção à contaminação pelo coronavírus devem seguir sendo adotadas em ações de campo, como forças-tarefas humanitárias e nas regiões de fronteira, como é o caso da Operação Acolhida, que recebe refugiados venezuelanos em Roraima

O documento também alerta sobre a divulgação das fake news nas redes sociais e destaca que “a prestação de informação falsa sujeitará o militar ou o servidor às sanções penais e administrativas previstas em Lei”. A recomendação do Exército é que familiares também sejam orientados a checarem a veracidade das informações.

“Não deverá haver difusão de mensagens em redes sociais sem confirmação da fonte e da veracidade da informação. Além disso, os militares deverão orientar os seus familiares e outras pessoas que compartilham do seu convívio para que tenham a mesma conduta”, diz o texto.

No ano passado, a relação de Bolsonaro com o comando das Forças Armadas provocou a maior crise militar desde a redemocratização. Em março, foram substituídos o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, além dos comandantes do Exército, Edson Pujol; Marinha, Ilques Barbosa; e Aeronáutica, Antônio Carlos Bermudez.

Tensão com Pujol

O maior foco de tensão era com Pujol, de quem o presidente cobrava um posicionamento mais firme contra representantes de outros Poderes e governadores que, ao longo de toda a pandemia, entraram em choque com Bolsonaro em função da determinação de medidas para evitar o contágio.

Como Pujol não se manifestou contra as medidas de isolamento social, a irritação presidencial foi aumentando — as divergências já haviam se tornado simbólicas em 2020, quando o então comandante do Exército estendeu o cotovelo a Bolsonaro, negando-se a cumprimentá-lo com um aperto de mão.