O Estado de S. Paulo, n. 47881, 20/11/2024. Metrópole, p. A20
Mesmo com apoio do G-20, há dúvidas sobre metas na COP
Priscila Mengue
Era madrugada no Azerbaijão quando os líderes do G-20 divulgaram a declaração final da cúpula realizada no Rio. O documento começou a reverberar na manhã de ontem, com recepção mista. Parte viu aspectos positivos e outros avaliaram que o texto ficou aquém do esperado.
O encontro do G-20 tinha grande expectativa diante da ausência dos maiores líderes mundiais na conferência climática. Publicamente, a ONU e o negociador-chefe da COP-29, Yalchin Rafiyev, elogiaram as sinalizações. “Os líderes do G-20 enviaram uma mensagem clara para seus negociadores na COP29: não deixem Baku sem uma meta de financiamento bem-sucedida. Isso é um interesse claro de todos os países”, afirmou. Na avaliação dele, os países se comprometeram a impulsionar reformas financeiras para obter uma ação climática forte e ao alcance de todas as nações.
A definição de valores e a de responsáveis pelo financiamento estão entre os aspectos que têm travado a negociação. A discussão envolve repassar recursos de países ricos para nações em desenvolvimento.
Um rascunho sobre o financiamento – Novo Objetivo Coletivo Quantificado sobre Financiamento Climático (NCQG na sigla em inglês) – pode ser veiculado até a noite de hoje. Nos bastidores, no entanto, já se fala que a COP, que iria até sexta-feira, pode ser postergada em um ou dois dias.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS.
Diretora executiva da plataforma Cipó, Maiara Folly avalia que o resultado da agenda ambiental foi positivo para apenas um ano de discussões. Destaca pontos sobre transição energética, mecanismos de proteção social, recomendações para reduzir a burocracia e reafirmar a necessidade de fundos acessíveis. Em contrapartida, vê poucos avanços e mais “reiterações de velhos compromissos”.
Líder de Política Global da Climate Action Network International (CAN), Shreeshan Venkatesh avalia que o documento dá sinais, mas não direciona para ações práticas em pontos importantes. Isso incluiria compromissos mais claros para o afastamento do uso de combustíveis fósseis, como acordado na COP de Dubai.
Já o consultor sênior em políticas de mudança climática Enrique Maurtua Konstantinidis destacou que o papel do G20 é ser um “megafone político” para um grupo de países muito significativos para a ação climática (mais ricos e maiores emissores históricos). Embora veja pontos positivos, avalia, porém, que o documento “não tem o detalhamento que se gostaria”. •