Correio Braziliense, n. 22556, 20/12/2024. Economia, p. 7
Analistas veem sinais positivos
Raphael Pati
Após bater recorde no dia anterior, o dólar voltou a cair ontem, após o Banco Central realizar dois novos leilões no valor de US$ 8 bilhões durante a manhã. Foi a maior intervenção cambial do Banco Central desde 1999, quando o país passou a adotar o câmbio flutuante. Com a ação do BC, o dólar fechou o dia em queda de 2,32%, cotado a R$ 6,12. Antes da venda, o dólar chegou a atingir o maior valor nominal da história, em R$ 6,30, mas foi contido pela injeção de divisas no mercado feita pelo BC.
Apesar da queda forte, o dólar ainda chega ao último dia da semana que antecede o Natal em ritmo de alta. Desde a última segunda-feira, o câmbio acumula valorização de 2%.
Na avaliação do sócio e economista-chefe da Bluemetrix Asset, Renan Silva, a venda estratégica de dólares ajudou a conter a pressão previamente imposta sobre a taxa de câmbio, além de demonstrar a força da política monetária em momentos de alta volatilidade. “A redução na cotação do dólar pode ser interpretada como um sinal positivo para a estabilidade financeira, embora ainda subsistam preocupações quanto à inflação e ao cenário econômico global”, avalia.
Nos Estados Unidos, foi divulgado ontem o resultado do PIB do 3º trimestre, que avançou 3,1% durante o período, levemente acima do esperado pela média das projeções feitas pelo mercado financeiro, que apostava em um avanço entre 2,8% e 2,9%. O resultado ajudou a valorizar o dólar no mercado internacional, na avaliação do economista.
“As novas informações sobre o PIB dos Estados Unidos, juntamente com a desaceleração do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE), também podem impactar a percepção dos investidores sobre o mercado financeiro, uma vez que a performance robusta da economia americana pode afetar o fluxo de capitais e a atratividade do real frente ao dólar”, completou.
Para o professor de Economia do Ibmec-DF William Baghdassarian, no entanto, o patamar elevado do câmbio atualmente é “extremamente tóxico” para a economia. “A gente não se apropria disso para exportação, em função da dificuldade que é você se inserir nessas cadeias internacionais de valor. Tem que ter contratos de longo prazo, autorizações, barreiras fitossanitárias. Os volumes são muito elevados, isso não é uma coisa que você faz de uma hora para a outra”, destaca.
No Congresso Nacional, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2024, enviada pelo governo federal e que prevê medidas de corte de gastos, foi positiva para conter o estresse do mercado — pelo menos, parcialmente, — na tarde de ontem, como avalia a gerente de Research e head de conteúdo da Nomad, Paula Zogbi. “Antes da decisão, o dólar recuava sem apoio de outros ativos domésticos, com o estresse sendo sentido nos juros, o que reforça que a indicação de uma postura mais cooperativa em torno do pacote fiscal é fator essencial para diminuir o sentimento de aversão a risco no mercado brasileiro”, destacou.