Correio Braziliense, n. 22556, 20/12/2024. Negócios, p. 8

Atenção a títulos do Tesouro
Raphael Pati


A trajetória de alta no dólar e os juros crescentes têm provocado impacto entre investidores  interessados em títulos públicos. A venda de títulos do Tesouro Direto foi suspensa novamente na manhã de ontem, por volta de 11h, no horário de Brasília. Após uma forte volatilidade, a plataforma foi paralisada e as negociações foram interrompidas no quarto dia consecutivo de valorização forte dos papéis.

Antes da suspensão, alguns títulos atingiram o maior patamar de toda a história, como foi o caso do Tesouro IPCA+, que chegou a pagar 8,25% ao ano, na opção de vencimento em 2028. Já o Tesouro Prefixado 2027 pagava 16,21% de juros anuais até o momento da interrupção.

Atualmente, os títulos de renda fixa passam por um período de intensa volatilidade, reflexo da tensão do mercado financeiro em relação ao cenário fiscal. Além dos papéis emitidos pelo governo federal, há intensa mudança de taxas no câmbio, na renda variável. Pesa ainda o cenário de juros mais altos, que consequentemente elevam os títulos públicos.

Apesar da animosidade com as taxas durante a manhã, o patamar dos títulos voltou a se estabilizar durante a tarde, com a aprovação em dois turnos, na Câmara dos Deputados, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2024, que prevê medidas de corte de gastos e foi enviada no fim do mês passado pelo governo federal.

Na última atualização, que foi feita às 17h18 (de Brasília), o contrato IPCA+ com vencimento em 2029 apresentava uma taxa de 7,85% ao ano. Já a opção que vence em 2035 registrava 7,26%. Entre os títulos prefixados, a rentabilidade do contrato com vencimento em 2027 era de 15,35%, enquanto que a opção para 2031 chegava a 14,86%.

O Tesouro Direto é um programa de compra e venda de títulos públicos gerido pelo Tesouro Nacional, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda. Esse produto, que também pode ser chamado de papéis ou ativos, é uma espécie de “dívida” emitida pelo governo federal para arrecadar recursos.

Ou seja, no Tesouro Direto, o papel da União é vender títulos públicos a qualquer cidadão, seja brasileiro ou estrangeiro. Essa aquisição é feita por meio do site de instituições financeiras habilitadas como bancos e corretoras de investimento que têm aval do Tesouro para comercializar os títulos públicos.

“O Tesouro Direto tem excelentes alternativas como, por exemplo, para quem quer manter sua reserva de emergência ou liquidez, no Tesouro Selic; para quem quer ampliar um investimento com cara de previdência, você tem o Renda+. E os custos são relativamente baixos quando comparados com fundos de investimento. Então são muitas alternativas”, avalia o professor de Finanças do Insper, Ricardo Rocha.

O especialista acredita que o investidor iniciante precisa entender que, em dias de muita volatilidade, como os últimos, há um mecanismo de marcação ao mercado. “Isso pode afetar o rendimento se você resgatar naquele dia e, em alguns casos, o Tesouro até cancela a negociação. Minha sugestão é que o iniciante coloque um pouquinho nos produtos e vá entendendo essa mecânica”, completa.