O Estado de S. Paulo, n. 47882, 21/11/2024. Metrópole, p. A17

Energia nuclear ganha força na COP-29, mas tema divide opiniões
Priscila Mengue

 

 

A energia nuclear tem se fortalecido por meio de anúncios e acordos bilaterais na Cúpula do Clima, a COP-29, em Baku, no Azerbaijão. Fala-se até em “renascimento” após anos de estagnação. Estados Unidos, Reino Unido e Ucrânia estão entre as nações que têm defendido o avanço dessa tecnologia como opção sustentável na transição energética para longe dos combustíveis fósseis.

O tema tem ganhado mais espaço desde a COP-28, em Dubai, no ano passado, quando 25 países se comprometeram a triplicar a produção desse tipo de energia até 2050, em relação a 2020. Em Baku, mais seis nações anunciaram adesão.

Se cumprido, o compromisso significaria cerca de 25% da produção de energia mundial (hoje está perto de 10%). A COP-29 deve se estender ao menos até esta sexta.

Em resposta, um grupo de cientistas e ONGs tem se reunido e criticado a expansão da energia nuclear. Uma das ressalvas é a necessidade de alto investimento em relação a opções eólicas e fotovoltaicas. Os críticos também consideram a alternativa como insegura e de demorada implementação diante da emergência climática. Nesse cenário, algumas usinas foram até fechadas nos últimos anos no Japão e na Alemanha, por exemplo, assim como se decidiu pelo veto a novas, como na Suíça.

Os signatários desde a COP28 em expansão da energia nuclear são: EUA, Armênia, Bulgária, Canadá, Croácia, República Tcheca, Finlândia, França, Gana, Hungria, Jamaica, Japão, Coreia do Sul, Moldávia, Mongólia, Marrocos, Holanda, Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Suécia, Ucrânia, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido. Os novos adeptos anunciados na COP29 são Cazaquistão, El Salvador, Nigéria, Turquia, Quênia e Kosovo. Não há sinal de que o Brasil será signatário.

No Brasil Energia nuclear representa cerca de 1% da matriz energética, com 2 usinas em Angra dos Reis, no Rio

No País, a energia nuclear representa cerca de 1% da matriz energética, com as duas usinas em operação em Angra dos Reis, no Rio, onde o Ministério de Minas e Energia defende a conclusão de uma terceira após anos de obra parada. O País renovou o acordo de cooperação nuclear com os EUA em setembro, mantido desde 1976, o qual pode facilitar a manutenção das estações atuais e até uma expansão.

Também na COP-28, o mesmo balanço global que indicou o distanciamento gradual da exploração de combustíveis fósseis mencionou a energia nuclear como alternativa de energia limpa. Essa inclusão foi celebrada na época como um reconhecimento histórico.

Os defensores apontam que modelos nucleares seriam necessários para dar mais segurança energética e estabilidade à cadeia de produção, por não estar ligada ao clima (como a eólica, a hidrelétrica e fotovoltaica). Na zona azul da COP-29, reservada a participantes credenciados pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo menos dois pavilhões promovem o modelo. Estão em meio a outros estandes, a maioria de governos.

A alternativa foi defendida até mesmo no discurso oficial de chefes de Estado na COP29. O tema foi o principal de diversos painéis e até de um evento da presidência da COP com a Agência Internacional de Energia Atômica (ligada à ONU). Entre os anúncios nesta conferência, estão novas usinas na Ucrânia, com apoio americano, e um acordo entre EUA e Reino Unido.

‘ARMADILHA’. O Estadão esteve em alguns painéis sobre o tema na COP-29. A maioria tem sido em defesa da expansão, mas o assunto também é criticado em eventos e protestos. Para o Vladimir Slivak, da Ecodefense, a difusão da energia nuclear é uma armadilha especialmente para países em desenvolvimento, pois é cara, com retorno demorado (pode ultrapassar 10 anos) e dependente de uma pequena cadeia de fornecedores. “Depende de tecnologias muito específicas daquelas companhias que fizeram aqueles reatores”, justificou. O físico Bimal Khadka ressaltou que coloca as comunidades do entorno em risco. •