O Estado de S. Paulo, n. 47882, 21/11/2024. Economia & Negócios, p. B2

Mercado vê corte de gastos como condição para estabilizar dívida.
Eduardo Laguna
Francisco Carlos De Assis
Renata Pedini

 

 

À espera do pacote de corte de gastos em discussão em Brasília, o mercado vê uma tendência de diminuição, ou mesmo reversão, do impulso fiscal. A expectativa é de que, depois de deixar para trás a maior parte dos estímulos, o governo deve apertar o cinto das despesas para aliviar a pressão sobre câmbio, inflação e juros. Além disso, a consolidação fiscal ajudará o País a buscar o grau de investimento atribuído pelas agências de classificação de risco.

“Não temos no horizonte mais nada que represente um impulso tão forte. Tirando a pandemia, passamos nos últimos dois anos pelo maior impulso do período recente”, comenta o economista Ítalo Franca, especialista em contas públicas do Santander. “Provavelmente, vamos observar uma desaceleração da economia sem esses novos impulsos”, acrescenta Franca, ressaltando que, para cumprir o arcabouço, a política fiscal terá de ser contracionista no ano que vem.

Para Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset, o governo terá de colocar um freio nas despesas obrigatórias para ganhar credibilidade na política fiscal e abrir um horizonte de estabilidade da dívida. “Não adianta fazer alguma contenção de gastos em despesas discricionárias, porque acaba ficando no mesmo problema: cortar uma despesa discricionária para aumentar outra despesa discricionária. Não interessa na sustentabilidade do modelo fiscal”, afirma ele, que foi secretário especial do Tesouro e Orçamento durante o governo Jair Bolsonaro. A incerteza, diz Funchal, aumenta conforme o governo demora para anunciar as medidas de corte de gastos..

Ex-secretário do Tesouro e, atualmente, economista chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida diz que políticas sociais são necessárias em um país com tanta desigualdade como o Brasil. Ele pondera, porém, que seria preciso rever o acesso a programas como o Bolsa Família. “Muito do que a gente chama de política social não vai para os mais pobres. Então, esses programas deveriam, a meu ver, ser revistos. Não tem almoço grátis. Se não controlar o crescimento das despesas, vamos precisar de uma carga tributária muito maior.”