O Globo, n. 32.397, 09/01/2022. Política, p. 5
Para Valdemar Costa Neto, Tereza Cristina é vice ideal para
Bolsonaro
Daniel Gullino
Da
lista de especulações sobre quem será o companheiro de chapa do presidente Jair
Bolsonaro em sua campanha à reeleição, o presidente do PL, o ex-deputado
Valdemar Costa Neto, tem um nome que avalia como ideal: o da ministra da
Agricultura, Tereza Cristina. O dirigente do Centrão tem dito a interlocutores
que Tereza agregaria à chapa por ser mulher, respeitada no agronegócio e ter
bom trânsito político.
Ter
uma vice mulher seria uma forma de tentar reduzir a resistência a Bolsonaro no
eleitorado feminino: de acordo com pesquisa do Ipec (ex-Ibope)
realizada em dezembro, 70% das mulheres desaprovam a maneira como o presidente
conduz o país.
Deputada
federa licenciada, Tereza Cristina planeja, no momento, ser candidata ao Senado
pelo Mato Grosso do Sul. Ela é filiada ao DEM, mas deve sair do partido após a
fusão com o PSL. E já foi convidada a se filiar ao PP e ao Republicanos.
Em
ao menos uma ocasião, há cerca de um ano, Bolsonaro disse pessoalmente à sua
ministra que ela é um dos nomes que ele considera para formar sua chapa.
Entretanto,
segundo aliados, o presidente, mais recentemente, tem apresentado resistência
em indicar qualquer nome que tenha o aval do Centrão — mesmo que o padrinho
seja Valdemar Costa Neto. O titular do Planalto tem receio de que um político
como vice possa se tornar uma ameaça.
Por
isso, internamente, Bolsonaro passou a cogitar ter novamente um vice militar,
assim como Hamilton Mourão. O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, é uma das
opções.
Caso
opte por uma mulher, o presidente também gosta do perfil da ministra Damares
Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que é evangélica, outro público que
ele deseja atingir. A pesquisa mais recente do Ipec mostrou esse segmento
dividido entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Outro ponto que conta a favor de Damares é sua proximidade com a primeira-dama,
Michelle Bolsonaro.
Na
última semana, Bolsonaro indicou, contudo, que a definição deve demorar:
—
Se você anuncia um vice muito cedo, os outros ficam chateados contigo — disse,
em entrevista a uma rádio.
Outros
pré-candidatos também estão de olho no eleitorado feminino. João Doria (PSDB),
por exemplo, já se comprometeu a ter uma mulher como vice. Até o momento, a
única pré-candidata é Simone Tebet (MDB), que é cortejada por outros partidos
para ser vice, mas pretende manter a candidatura.
Líder
da bancada
Tereza teve uma rápida ascensão na política. Eleita pela primeira vez deputada
federal em 2014, tornou-se no início de 2018 presidente da Frente Parlamentar
da Agropecuária (FPA), uma das mais influentes do Congresso. O posto a
credenciou a ser cogitada como vice na chapa de Geraldo Alckmin (na época, no
PSDB) nas eleições daquele ano, mas a vaga acabou ficando com a então senadora
Ana Amélia, que também tinha interlocução com o agronegócio.
No
segundo turno, a deputada declarou, junto com a FPA, apoio a Bolsonaro. Após a
eleição, foi indicada pela bancada para assumir o Ministério da Agricultura.
Bolsonaro costuma fazer elogios públicos à ministra, a quem chama de
"pequena grande mulher".
—
Pelo trabalho que tinha na Câmara, a bancada ruralista apresentou o nome da
Tereza Cristina. Eu não pestanejei, assinei na hora a posse dela. Eu senti uma
empatia naquele momento. Essa baixinha aqui vai longe. Ela é corredora de
maratona— disse ele, em discurso em maio do ano passado.
Por
seu perfil conciliador, Tereza teve papel crucial nas negociações com a China
pelo fim do embargo à carne brasileira. Seu trânsito com autoridades chinesas,
inclusive, a fez participar de conversas sem relação com a sua pasta, como as
tratativas para envios de insumos para vacinas.
De
olho em expandir seu eleitorado em direção ao centro, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) tem se aproximado, desde o fim do ano passado, do
ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que deixou o PSDB após 33 anos.
Antes cotado para concorrer ao governo de São Paulo pelo PSD, Alckmin deixou
claro em conversas com a sigla que está mais interessado em ser vice de Lula na
chapa presidencial. A decisão o aproxima do PSB, que tem sinalizado
positivamente pela filiação do ex-tucano e pela
composição com o petista.
Moro
(Podemos)
Para
crescer nas pesquisas e avançar na disputa presidencial, o ex-juiz Sergio Moro
cogita ter em sua chapa um representante do União Brasil, que tem conversas
adiantadas com o seu partido, o Podemos. A nova legenda, fruto da fusão entre
PSL e DEM que ainda não foi oficializada pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), deve ser a dona do maior fundo eleitoral e do maior tempo de televisão.
Entre os possíveis candidatos para a vaga de vice na chapa de Moro estão o
presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), e o ex-ministro da Saúde Luiz
Henrique Mandetta. O nome de Bivar ganhou força pelo bom trânsito que tem no
Congresso. Por sua atuação na Lava-Jato, o ex-juiz enfrenta resistência da
classe política. Bivar também vai ser o dono do cofre de seu partido e tem
reduto no Nordeste, região onde Moro patina nas pesquisas de intenção de voto.
Ciro
Gomes (PDT)
Em
busca de espaço entre os candidatos da chamada "terceira via", Ciro
Gomes (PDT) ainda não definiu quem vai compor sua chapa presidencial. Ao GLOBO,
o presidente do PDT, Carlos Lupi, já apontou o perfil ideal para a vaga:
preferencialmente um político de Minas ou São Paulo, os dois maiores colégios
eleitorais do país e, se possível, "mulher ou negro".
Nos
últimos dias, o nome de Marina Silva (Rede) tem sido cotado e foi elogiado por
apoiadores do pedetista nas redes sociais. Em entrevista ao GLOBO, Marina
chegou a elogiar o "esforço de debater propostas" de Ciro Gomes, mas
criticou a "violência política" que seria empregada por seu
marqueteiro, João Santana. Na campanha de 2014 para a Presidência da República,
quando chegou a liderar a disputa, Marina foi alvo de propagandas produzidas
por Santana, que trabalhava para a reeleição de Dilma Rousseff (PT).
Doria
(PSDB)
Escolhido
em prévias do PSDB candidato do partido ao Palácio do Planalto, o governador de
São Paulo, João Doria, assumiu o compromisso de ter uma vice-presidente mulher.
Até o momento, o nome mais forte cogitado para a vaga é o da senadora Simone
Tebet (MDB-MS), que também é pré-candidata à Presidência e tem descartado
desistir para se aliar a outro concorrente. Entre os ativos de Simone estão sua
proximidade com o agronegócio e a notoriedade que ganhou durante a CPI da Covid
no Senado.
Outros
pré-candidatos
Também pré-candidatos à Presidência da República neste ano, nomes como o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o senador Alessandro
Vieira (Cidadania-SE), o ex-ministro da Saúde Luiz
Henrique Mandetta (DEM), o deputado federal André Janones
(Avante-MG) e a própria Simone Tebet ainda buscam se viabilizar na disputa,
antes de cogitarem nomes para compor suas chapas. As decisões devem ser tomadas
nos próximos meses e com base nas pesquisas de intenção de voto. (Lucas
Mathias)