O Estado de S. Paulo, n. 47885, 24/11/2024. Política, p. A9

Para ex-presidente, investigação é ‘historinha’; Braga Netto se defende
Vinícius Valfré
Pedro Augusto Figueiredo

 

 

Sob a pressão de um inquérito que pode render, no futuro, até 28 anos de prisão, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem usado os dias na praia em Alagoas para reagir à sua maneira. Indiciado pela Polícia Federal por tentar um golpe de Estado, Bolsonaro passou a reexibir apoio popular nas ruas, inúmeros pedidos por selfies e uma “vida normal”, com pescaria, idas a barbearia e mercados e reiteradas críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ontem, ele voltou a criticar a investigação da PF e o magistrado do STF. “Alexandre de Moraes fala o tempo todo que a direita não pode continuar crescendo. Ele persegue a direita o tempo todo”, afirmou em entrevista à Maragogi FM. “Não acredito nessa historinha de golpe. Ninguém viu um soldado sequer na rua, um tiro, nada. Moraes fica inventando narrativa com sua polícia criativa. Iam sequestrar Lula, Alckmin e Moraes para depois envenenar? Ah, vai plantar batata. Para de perseguir as pessoas por interesse pessoal.”

Com o ex-ministro do Turismo Gilson Machado a tiracolo, o ex-presidente foi a uma barbearia na manhã de ontem. Enquanto era atendido, prontificou-se a responder a perguntas para uma transmissão ao vivo nas redes sociais do aliado. Bolsonaro aproveitou para criticar Moraes e a investigação que indiciou ele e mais 36 pessoas por crimes como tentativa de golpe de Estado e de abolição do estado democrático de direito.

“É um absurdo essa história do golpe. Golpe com um general da reserva e quatro oficiais? Pelo amor de Deus. Quem estava coordenando isso? Cadê a tropa? Cadê as Forças Armadas? Não fique botando chifre em cabeça de cavalo.”

O ex-presidente saiu em defesa dos presos na Operação Contragolpe. Para o político, as prisões decretadas por Moraes são injustas. “Não se encontra um só respaldo da lei que fala da preventiva para prender esses quatro oficiais”, afirmou.

Bolsonaro viajou para São Miguel dos Milagres, no litoral de Alagoas, no último dia 20, um dia depois da prisão de quatro oficiais do Exército e de um policial federal suspeitos de participação em um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB), e Moraes.

‘NUNCA’. Ontem, outro indiciado no inquérito, o general da reserva e ex-ministro Walter Braga Netto, se defendeu pela primeira vez e negou tratativas para se dar golpe no Brasil. Ele também negou a existência de um plano para assassinar autoridades. Segundo a PF, o militar participou de um planejamento para executar a chapa vencedora em 2022 e o ministro do STF.

“Nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assassinar alguém”, escreveu o militar na rede social X. Ele também publicou uma nota de seus advogados que faz menção a sua trajetória como comandante militar do Leste, chefe do EstadoMaior do Exército, interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro e ministro da Defesa e da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro. “Lembra, ainda que, durante o governo passado, foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022 e a mantém até os dias atuais”, diz o texto.