O Globo, n. 32.297, 09/01/2022. Mundo, p. 20
No debate colombiano não existe um Bolsonaro
Entrevistado:
Oscar Zuluaga, candidato a presidente da Colômbia
Depois
da eleição presidencial chilena, as atenções estão voltadas para a Colômbia,
onde será realizado, no fim de maio, o primeiro turno do pleito que elegerá o
sucessor de Iván Duque. O favorito, até o momento, é o senador de esquerda
Gustavo Petro, que se mantém na liderança das pesquisas, mas por uma margem
pouco folgada em relação a seus adversários, entre eles o ex-ministro, ex-senador
e ex-candidato presidencial Óscar Iván Zuluaga. Em entrevista ao GLOBO,
candidato do Centro Democrático, de direita, liderado pelo ex-presidente Álvaro
Uribe (2002-2010), afirmou que não há um político equivalente ao presidente
Jair Bolsonaro na campanha em seu país e se distanciou dele. "O confronto
político será entre os que queremos preservar valores essenciais como a
liberdade e os que querem assumir o risco de um populismo radical",
enfatizou Zuluaga.
Em
que fase da campanha está a Colômbia?
Neste
momento, o que está sendo definido na Colômbia são as alianças e coalizões que
se formarão para disputar a eleição presidencial. No próximo 13 de março,
quando será realizada a eleição legislativa para renovar o Senado e a Câmara,
também serão realizadas consultas internas nos partidos para justamente definir
essas alianças. Depois, saberemos quantos candidatos teremos no primeiro turno.
Certamente entre quatro e cinco.
O
Centro Democrático pretende formar uma aliança com outros partidos?
Isso
é o que estamos definindo neste momento. Ainda não tomamos uma decisão, estamos
avaliando com quem poderíamos nos aliar. A tendência é formar uma coalizão, é o
desejável nas atuais circunstâncias políticas colombianas.
A
Colômbia também será cenário de uma eleição polarizada entre esquerda e
direita, como foi no Chile e será no Brasil?
O
debate na Colômbia é mais sobre o apoio, ou não, a um populismo ou uma esquerda
radical, que pode afetar valores essenciais numa democracia, entre eles a
propriedade privada e o respaldo do Estado à força pública, em momentos de
forte aumento da violência. Petro representa uma opção populista. O confronto
será entre os que queremos preservar valores essenciais como a liberdade e os
que querem assumir o risco de um populismo radical.
O
senhor vê semelhanças entre Petro, o chileno Boric e o ex-presidente Lula?
Lula
foi presidente, todos sabem o que ele pensa, qual é sua atitude em relação ao
setor privado, é um cenário completamente diferente. Podem existir semelhanças
com o Chile, porque Boric representa uma esquerda mais radical. Ele se moderou
no segundo turno, o que mostra que a esquerda precisa se moderar para vencer
uma eleição. Na Colômbia, valores como a segurança, a luta contra o
narcotráfico e a defesa do setor privado são fundamentais, e isso tem muito a
ver com a experiência na vizinha Venezuela. A Venezuela é um espelho onde temos
de nos olhar com atenção. O populismo destruiu aquele
país, e esse é o risco: ele enfraquece o setor privado, as possibilidades de
gerar emprego.
Por
outro lado, na Colômbia percebe-se um cansaço social em relação ao uribismo e os sucessivos governos do Centro Democrático...
Hoje,
em consequência do aumento do narcotráfico em todo o país, temos problemas de
insegurança graves. Vemos que muitas pessoas lembram e demandam a segurança que
o Centro Democrático deu ao país. Os colombianos sabem que nossas ideias foram
provadas. Geramos investimento, crescimento, emprego e recursos para financiar
gastos sociais. Em 2021, nossa economia teve um excelente desempenho, muito
acima de quase todos os países da América Latina, como mostrou a revista
Economist. O presidente melhorou seus índices de aprovação e isso mostra que os
ideais do Centro Democrático continuam vigentes.
O
senhor se define como um candidato de direita?
Mais
do que político, sou empresário. Dediquei 25 anos a gerar empregos bem
remunerados. Sou um homem de resultados, de fatos concretos,
e que constrói consensos. O problema da falta de emprego não tem tendência
política. Eu defendo valores como a liberdade, a força pública, a empresa
privada, a família como eixo da sociedade.
Qual
é sua opinião sobre direitos civis como casamento gay e legalização do aborto?
Respeito
a vida, da concepção até a morte, mas entendo que devemos respeitar posições
que na Colômbia, inclusive, são parte de nosso marco legal e constitucional.
Aqui o aborto está autorizado em três situações, é uma norma que deve ser
respeitada. Reconheço os direitos civis e patrimoniais entre casais do mesmo
sexo. Tudo o que está refletido em normas já em vigência.
Como
o senhor avalia a nova direita liderada, entre outros, por Bolsonaro e Donald
Trump?
Existem
muitos pontos em comum, mas também muitas diferenças. Estou absolutamente em
desacordo com a maneira como Bolsonaro lidou com a pandemia e a Covid-19, o
fenômeno mais grave vivido pela humanidade nos últimos 100 anos. Na Colômbia
administramos a pandemia de uma maneira muito mais acertada. Precisamos
encontrar equilíbrios, mas sempre atuando com responsabilidade. Defendo a
construção de consensos, sem conotações ideológicas.
O
senhor não nega as mudanças climáticas, nem a ciência?
Não,
o desenvolvimento sustentável é prioridade em qualquer política pública, sem
isso não há vida.
Não
existe um Bolsonaro colombiano?
No
atual debate político não, nenhum. É um fenômeno brasileiro, com suas próprias
particularidades.
O
resultado da eleição colombiana terá impacto na eleição brasileira?
Cada
eleição tem seus efeitos, mas, finalmente, as realidades de cada país acabam se
impondo. Não é porque a esquerda venceu no Chile que vai vencer também na
Colômbia, por exemplo.