Título: Dinheiro não ia todo para custeio do ensino
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 27/12/2005, Brasília, p. D3

Apesar do valor repassado ser menor que o do Bolsa-Escola, o Renda Minha oferece kits escolares aos alunos beneficiários do programa. A política de distribuição de material escolar não é bem vista pelo pesquisador Ricardo Pacheco: - Antes a família recebia salário e tinha condição de comprar material escolar. Por trás, dessa doação acredito que existe certo preconceito como se a família não soubesse consumir o valor pago pelo Estado - explica Pacheco

Segundo o pesquisador, o estudo feito sobre o Bolsa-Escola constatou que as famílias beneficiárias não aplicavam toda a renda recebida em educação. O primeiro setor de consumo era alimentação, o segundo vestuário e os estudos vinham em terceiro.

- É uma visão autoritária de que o pobre não sabe como gastar o que recebe. Isso é um absurdo porque se essa família sobrevive até hoje é porque sabe como gastar - avalia Pacheco.

De acordo com o pesquisador, a família recebe os kits e dá muito valor a isso. Entretanto, ele defende maior interação do governo com as famílias beneficiárias.

- Uma política pública só é eficiente quando há um mínimo de interferência entre o beneficiário e o governo - diz Pacheco.

Além do cerceamento da liberdade dos pais de decidir o que é mais importante para a família, outro ponto negativo levantado por Pacheco é a burocracia governamental para adquirir o material, o que muitas vezes atrasa a distribuição dos kits. Este ano, por exemplo, os alunos receberam o material escolar com um mês de atraso, quando muitos pais já haviam comprado parte dos cadernos e lápis.