O Estado de S. Paulo, n. 47887, 26/11/2024. Economia & Negócios, p. B1

Após pressão, Carrefour prepara carta de retratação ao Brasil
Talita Nascimento
Isadora Duarte
Francisco Carlos De Assis

 

 

CEO Alexandre Bompard fará retratação ao ministro Carlos Fávaro (Agricultura) após suas declarações levarem à interrupção de fornecimento de carnes por frigoríficos brasileiros.

Boicote Frigoríficos deixaram de fornecer carnes à rede no País, gesto apoiado pelo ministro Carlos Fávaro

O CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, fará uma retratação formal ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, após suas declarações levarem à interrupção de fornecimento de carnes por parte de frigoríficos brasileiros ao grupo no País. Pelas negociações em curso, o desejo da gestão da companhia é de que a carta seja entregue em mãos ao ministro – o que depende da agenda de Fávaro.

No fim da tarde de ontem, de acordo com integrantes do governo, o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, se reuniu com autoridades do ministério para tratar da crise entre Carrefour e a indústria de carnes brasileira, e teria apresentado a carta de Bompard. Lenain deixou o ministério sem falar com a imprensa. Ele não se encontrou com o ministro da Agricultura, que estava em reunião no Palácio do Planalto.

O boicote dos frigoríficos ocorreu após Bompard se comprometer, na última semana, a não vender em lojas da França carnes provenientes do Mercosul. Segundo ele, a medida foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que são contrários à proposta de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

Fávaro, por sua vez, disse não ter feito um pedido explícito ao setor frigorífico para que realizasse o boicote, mas parabenizou a indústria brasileira pela decisão (mais informações na pág. B2).

As palavras de Bompard foram recebidas com surpresa até mesmo por membros do conselho da operação brasileira, que afirmaram que a fala foi “pouco diplomática”.

LIRA.

Pela manhã, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PPAL), chegou a cobrar uma retratação da rede varejista francesa e disse que iria pautar na Casa discussão de medidas de “reciprocidade econômica” com a França.

Apresentado em abril passado pelo deputado Tião Medeiros (PP-PR), o PL 1406/24 proíbe o governo de propor ou assinar acordo internacional com cláusulas ambientais que restrinjam a exportação de produtos brasileiros sem que os países signatários adotem medidas de proteção ambiental equivalentes.

“Não é possível que o CEO de um grupo importante, como o Carrefour, não se retrate de uma declaração sobre não contratar as proteínas animais advindas da América do Sul. O Brasil, o Congresso Nacional, os empresários e a população têm de dar uma resposta clara para que esse protecionismo exagerado dos produtores da França não seja motivo de injusto protecionismo contra os interesses de quem se protege debaixo da lei mais rígida do sentido ambiental mundial, que é o nosso Código Florestal”, disse Lira, durante evento, em São Paulo.