Correio Braziliense, n. 22569, 02/01/2025. Política, p. 3

Justiça barra eleito que reclamou de “preço” do voto


Foragido da Justiça por suspeita de compra de votos, Carlos Alberto Queiroz, o Bebeto do Choró (PSB) — município de 12 mil habitantes a 185km de Fortaleza —, teve a posse como prefeito suspensa pela Justiça Eleitoral.

A decisão atende a um pedido do Ministério Público do estado, que pediu a cassação de Bebeto após a Polícia Federal encontrar diálogos atribuídos ao político, entre os quais um áudio em que o prefeito eleito “reclama do preço a pagar pelos votos, indicando que estava muito caro”.

“Mas só para votar... ele é doido, é caro demais, mano... ele consegue quantos votos?”, disse Bebeto a um interlocutor, em 29 de setembro, às vésperas do primeiro turno, que ocorreu em 6 de outubro. Dois meses após o diálogo, Bebeto foi alvo das operações Ad Manus, da Promotoria, e Vis Occulta, da Polícia Federal. Em nota divulgada no início de dezembro, Bebeto afirmou sua “total inocência”.

O inquérito sobre a suposta compra de votos apura um esquema que envolveria mais de 51 prefeituras, com a lavagem de dinheiro de emendas parlamentares. A investigação citou o deputado Júnior Elmano (ex-PL) e por isso o caso subiu para o Supremo Tribunal Federal (STF). O processo está no gabinete do ministro Gilmar Mendes.

As provas colhidas pela Polícia Federal abasteceram uma ação de investigação judicial eleitoral que ao Ministério Público do Ceará moveu contra Bebeto e seu vice, Bruno Juca Bandeira (PRD) — o qual também teve a posse suspensa. O prefeito eleito foi diplomado por procuração no último dia 14. Foi o filho dele quem compareceu à cerimônia no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), para que o pai não fosse capturado pela PF.

Interino

Quem assumiu a prefeitura interinamente foi o vereador Paulo George Saraiva (PSB). Ele citou a suspensão da posse de Bebeto em cerimônia na Câmara dos Vereadores, transmitida pelas redes sociais. Ele chamou a vice-presidente da Casa a assumir a cerimônia — e seu assento — enquanto ia “tomar posse como prefeito interino”.

A   ação   movida   pela Promotoria Eleitoral contra Bebeto e seu vice foi assinada pelo promotor eleitoral da 6ª Zona Eleitoral do Ceará André Luis Tabosa de Oliveira no último dia 13. Ele atribui ao prefeito eleito e a Bandeira abuso de poder econômico, não apenas quanto às eleições municipais em Choró, mas em outras cidades.

“O que se constata é a arrecadação de valores por meio de transferências de receitas de pessoas jurídicas sob o controle direto do promovido Carlos Alberto Queiroz Pereira e de sua irmã Cleidiane de Queiroz Pereira, utilizando-se de “laranjas”, como forma de evitar a identificação direta de um grande esquema de captação ilícita de sufrágio, doações eleitorais irregulares, e ilícitos não eleitorais, com ramificações que ainda estão sob a investigação da Polícia Federal”, escreveu o promotor.

Segundo o MP, as conversas interceptadas pela PF, com uma “variedade de pessoas beneficiadas e dos municípios atingidos”, mostram a “complexidade da teia de interesses” do prefeito eleito e seus aliados “e o espectro de sua influência eleitoral, a compor a abrangência do abuso de poder econômico relacionado ao aspecto eleitoral”.

A PF diz ter conseguido evidências “de um intricado esquema eleitoral envolvendo o grupo criminoso liderado” por Bebeto, que articulava a compra de votos na região de Canindé, a cerca de 100km de Fortaleza, “mediante o oferecimento de vantagens materiais e financeiras”.

As investigações que miram o prefeito eleito de Choró tiveram início após a prefeita de Canindé (CE), Maria do Rosário Araújo Pedrosa Ximenes, buscar o Ministério Público, em pleno período eleitoral, para denunciar Bebeto do Choró.

Segundo a denúncia, Bebeto “enviaria dinheiro para outras prefeituras, cerca de 51, e teria para gastar nas eleições mais de R$ 58 milhões”.

Maria do Rosário alegou ainda que o então candidato à Prefeitura de Choró “financiaria carro, gasolina, brindes, compra de votos; que esses financiamentos são em troca da prefeitura”.