Título: Fogo no INSS: DF tem maior incêndio em 17 anos
Autor: Lígia Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 28/12/2005, Brasília, p. D1

O início da Asa Sul parou na manhã de ontem por três horas, enquanto um incêndio destruía seis dos dez andares do prédio do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), no Setor de Autarquias Sul, de frente para a L2. Não houve feridos, pois o edifício estava quase vazio às 7h10, quando o incêndio começou. Mesmo assim, foi o maior incêndio registrado em Brasília nos últimos 17 anos. Além do comprometimento da estrutura do edifício por causa do calor, houve ainda perdas de documentos estratégicos no combate à corrupção previdenciária. Autos de infração, multas e outros papéis pertencentes às áreas de controladoria, auditoria, fiscalização e orçamento do Instituto estão perdidos.

No edifício funcionava a sede administrativa do INSS, onde estavam a Diretoria e a Secretaria Previdenciária, que faz a fiscalização de empresas, recolhimento das contribuições previdenciárias pendentes e arquivamento de autos de infração e outras provas documentais dos processos que investigavam irregularidades em relação à previdência social. A perda significa um obstáculo à cobranças devedores do INSS no futuro.

Segundo o ministro da Previdência Nelson Machado, as provas materiais relativas às empresas autuadas pela fiscalização estão totalmente perdidas.

- Com trabalho árduo, podemos recuperar apenas os processos - disse o ministro

Nelson Machado não descartou a possibilidade de que o incêndio tenha sido criminoso. O coronel Sossígenes de Oliveira Filho, que comandou os 150 bombeiros que participaram da operação, o laudo poderá identificar apenas se o fogo foi provocado ou fruto de acidente.

- Se a ação foi criminosa ou não só a investigação da Polícia Federal poderá indicar - disse.

Falhas - De acordo com o Corpo de Bombeiros, houve falha no sistema fixo de prevenção à incêndio do edifício.

- Houve falha no sistema de pressurização que leva a água para as mangueiras internas, o que impossibilitou que se combatesse o fogo dentro do prédio - informou o coronel José Newton Matos, do Corpo de Bombeiros.

Toda a ação foi feita pelo lado de fora do prédio, o aumentou o tempo de exposição dos bombeiros. A explosão dos vidros e a ação do vento dificultou o trabalho. Apesar disso, o fogo estava controlado por volta das 11 da manhã.

Além do problemas com as mangueiras, o extintor de incêndio não funcionou, nem havia bombeiro civil no local. O bloco também não possui escada de incêndio. O coronel Sossígenes não soube explicar as dificuldades.

- Esse edifício foi construído dentro das normas de seguranças de 50 anos atrás. Acredito que ele recebia manutenção - disse.

No entanto, o presidente do Sindicato dos Bombeiros Civis (Sindbombeiros), Edilson Santana, não achou que tudo estava em ordem. Segundo ele, 90% dos prédios do Setor de Autarquias precisam de manutenção.

- Extintor sem gás carbônico é problema de manutenção - apontou.

Santana explicou que um sistema preventivo em ordem evita incidentes desse porte. Para ele, apenas isso permite uma ação eficaz no início do fogo, o que teria diminuído as proporções do episódio.

- Por sorte o incidente ocorreu fora do horário do expediente, caso contrário teríamos um outro episódio como o do Joelma (em São Paulo). Por onde as pessoas desceriam após todos os equipamentos terem falhado? - questionou o presidente do sindicato.

Os funcionários da Previdência que trabalhavam no edifício, chegando à medida que o fogo se espalhava pelo prédio, faziam-se a mesma pergunta. Embora nervoso, o funcionário do INSS Antônio Pereira, há 12 anos na instituição, agradecia não estar dentro do prédio.

- Perdi todos meus documentos pessoais, que guardava na gaveta da mesa por segurança. Antes uma perda assim do que ter a vida ameaçada - avaliou.

Ao todo, 300 homens do Corpo de Bombeiros, Polícias Militar e Federal e Defesa Civil participaram do combate ao fogo. Foram usados 37 veículos, quatro carros plataforma e um helicóptero.