Título: BC desfaz promessas de crescimento
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 29/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

As promessas e ''garantias'' feitas nos últimos dias pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de que o país voltaria a viver o crescimento econômico registrado no ano passado foram abatidas ontem pela visão técnica de dentro do próprio governo. No relatório trimestral de inflação, divulgado ontem, o Banco Central previu que, em 2006, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas pelo país) registrará expansão de apenas 4%. O resultado é quase um ponto percentual abaixo do otimismo que o Executivo vinha projetando.

Na semana passada, em reunião ministerial, Lula estabeleceu o percentual de 5% como meta de crescimento a ser perseguida pelo governo. Na sexta-feira, o ministro Antonio Palocci chegou a prever que a atividade econômica voltaria a apresentar, em 2006, o mesmo resultado do ano passado, quando atingiu 4,9%.

- A economia do país tem as condições necessárias para repetir, no próximo ano, o mesmo resultado de 2004 - disse Palocci, na semana passada.

Já na segunda-feira Lula ''garantiu'' que, em 2006, o país teria um ''crescimento vigoroso''.

- Não prometo, garanto ao povo que vamos ter um Brasil se desenvolvendo muito mais em 2006, com crescimento vigoroso - disse, em seu programa de rádio.

A projeção do BC é baseada nas perspectivas - consideradas favoráveis - para o setor agropecuário e para a indústria, que seria beneficiada com a trajetória de redução da taxa de juros. A previsão de crescimento do setor agropecuário é de 4,8%. Para a indústria é de 5,3%. O setor de serviços deverá crescer, para o BC, 2,9%.

Para 2005, a previsão foi dramaticamente revista para baixo, conseqüência da retração da atividade econômica em 1,2% no terceiro trimestre. Assim, O PIB deverá crescer 2,6% este ano, segundo o BC, contra a previsão inicial de 3,5%.

''As perspectivas são de recuperação, em decorrência do crescimento do emprego, do reequilíbrio dos estoques no setor produtivo e da flexibilização na política monetária num ambiente de expansão do crédito'', diz o relatório.

Segundo o BC, a indústria crescerá 3% neste ano; o setor de serviços, 2,1%; e a agropecuária, 1,5%.

O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, tentou explicar a divergência e alegou que a diferença das projeções da autoridade monetária em relação às feitas pela Fazenda se explica pelo fato de que o BC levou em consideração o resultado do terceiro trimestre, além da redução do índice de confiança dos empresários e consumidores.