Título: Romaria por dinheiro público
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 29/12/2005, Economia & Negócios, p. A19

O compromisso de construir as usinas hidrelétricas arrematadas no último leilão de novos empreendimentos energéticos levou a Eletrobrás a intensificar nos últimos dias as conversas com a equipe econômica do governo. De olho na necessidade de expandir em pelo menos 6% ao ano a oferta de energia do país, o presidente da estatal do setor elétrico, Aloisio Vasconcelos, afirmou que, com os entendimentos, tenta revogar a portaria do Conselho Monetário Nacional (CMN) que impede o financiamento de estatais por bancos públicos. Da época do Programa Nacional de Desestatização (PND), a portaria constitui o único obstáculo, hoje, para o cumprimento da promessa da diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de financiar todos os novos empreendimentos de geração energética do país. Os recursos do banco são fundamentais, segundo Vasconcelos, para viabilizar investimentos em novos projetos necessários para evitar um novo racionamento no país nos próximos cinco anos.

Além da Eletrosul, que terá de construir a hidrelétrica de Passo São João (RS), de 77 megawatts (MW), a Eletrobrás arrematou o direito de construir outras duas usinas, por meio de Furnas Centrais Elétricas: Simplício (MG e RJ), de 323,7 MW, e Paulistas (GO e MG), de 52,5 MW.

Além disso, a diretoria da estatal está atenta à possibilidade de licitação, no próximo ano, dos projetos das usinas gigantes de Belo Monte (PA), de 5,5 mil MW, e Rio Madeira (RO), de 6 mil MW. As atenções também estão voltadas para a perspectiva de licitação da usina de Ipueiras (TO), de 480 MW, no próximo leilão da chamada energia nova previsto para o primeiro semestre do próximo ano. Essa usina ficou de fora do último leilão, em 16 de dezembro, por dificuldades de licenciamento ambiental.

O presidente da Eletrobrás justifica que, se o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescer a uma taxa de 5%, como querem tanto o presidente Lula quanto o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a expansão da oferta de energia do país terá que ser de 6% no mesmo período. O planejamento da Eletrobrás, como mesmo lembrou o executivo, previa uma expansão de 3,4% do PIB, o que demandaria uma expansão de ''mais ou menos 4%'' da oferta energética.

Para 2006, o executivo diz que a oferta de energia estaria garantida. A dificuldade seria sustentar essa taxa nos próximos cinco anos. Além dos entendimentos com a Fazenda, Vasconcelos admite que isso demandará a intensificação das articulações com a iniciativa privada para viabilizar parcerias para a disputa dos novos leilões.

- A situação está tranqüila, mas isso deve servir como um pequeno alerta para os próximos cinco anos - afirmou.