Título: Emergências em estado grave
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 30/12/2005, Rio, p. A9

A crise na saúde do Rio de Janeiro ameaça ofuscar a festa de réveillon, caso aconteça um acidente de grandes proporções na orla, onde mais de 2 milhões de pessoas estarão reunidas para assistir a queima de fogos. A conclusão é do dossiê, finalizado ontem pela Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores, que aponta as condições precárias da emergência de 14 hospitais públicos e a falta de profissionais como dois de uma série de fatores que podem manchar a imagem da cidade, na hipótese de ocorrer um colapso no atendimento na na virada do ano. As secretarias Municipal e Estadual de saúde criticaram o relatório. Durante uma semana, a comissão inspecionou seis hospitais municipais, cinco estaduais e três federais. O dossiê de 60 páginas será enviado terça-feira, às secretarias Municipal e Estadual de saúde e ao escritório regional do Ministério da Saúde no Rio.

- A cidade não tem como atender um acidente de grandes proporções. Se houver uma catástrofe - Deus nos livre - em Copacabana, durante o réveillon, as pessoas vão morrer por falta de atendimento adequado. Bastam dois ônibus lotados colidirem que vamos nos deparar com o caos nas emergências - denuncia o vereador Carlos Eduardo (PPS), vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara.

A inspeção constatou também a redução no quadro de vigilantes terceirizados em cinco hospitais municipais: Miguel Couto, Souza Aguiar, Paulino Werneck, Salgado Filho e Lourenço Jorge. De acordo com o relatório, o contrato com a empresa vence hoje, o que aumenta os riscos dessas unidades ficarem desguarnecidas durante a passagem do ano. A Secretaria Municipal de Saúde garantiu que a segurança das unidades está garantida: o contrato será prorrogado até janeiro.

- O que verificamos é uma vergonha! Os governantes quando adoecem recorrem à rede de saúde privada. Eles deveriam conhecer o drama dos pacientes e dos médicos para entender que o setor está sucateado no Rio - atesta o vereador.

Nas 12 unidades analisadas, a comissão comprovou a falta de recursos humanos para garantir o atendimento adequado aos pacientes. No Salgado Filho, no Méier, o dossiê indica a carência de 275 profissionais na emergência. No Hospital do Andaraí, administrado pelo Ministério da Saúde, outra denúncia: pacientes internados em cadeiras e bancos por falta de leitos. No Souza Aguiar, a situação também é grave: faltam roupas de cama e cirúrgica, além de os aparelhos de raios-X estarem danificados. No Miguel Couto, os aparelhos de suporte básico e avançado de vida estão sucateados e sem manutenção.

- Os hospitais Pedro II e Albert Schweitzer estão sem elevadores. Ambos estão com os centros cirúrgicos interditados. No Pedro II, há vazamento de esgoto que prejudica o trabalho dos médicos e o bem-estar dos pacientes - denuncia o vereador.

A Secretaria Estadual de Saúde desmentiu a informação de que as unidades tenham problemas de pessoal, além de garantir que os tomógrafos voltarão a operar a partir de janeiro devido à renovação do contrato com a empresa encarregada da manutenção dos aparelhos. A secretaria também explicou que dois dos quatro elevadores funcionam normalmente no Pedro II e no Albert Schweitzer sem prejuízo aos pacientes. Em nota oficial, a Secretaria Municipal de Saúde classificou a inspeção feita pela Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores como uma atitude eleitoreira.

A secretaria negou que haja problemas com os aparelhos de raios-X ou respiradores, garantiu que o estoque de medicamentos está normalizado, e explicou que a rede municipal trabalha com uma demanda por atendimento superior à sua capacidade estrutural, agravada pela grande procura de pacientes de outros municípios. ''A carência de funcionários, provocada em parte pela sobrecarga, está sendo suprida gradualmente com a convocação de concursados pela SMS.'', diz a nota.