Título: De vilão a herói da inflação
Autor: Fernanda Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 30/12/2005, Economia & Negócios, p. A17
Considerado o vilão dos índices de inflação, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) termina 2005 como o mocinho do mercado. Pela primeira vez desde 1989, quando foi criado, o IGP-M fecha no acumulado de 12 meses com a menor taxa da série histórica da Fundação Getúlio Vargas (FGV): 1,21%. Até então, a menor taxa tinha sido de 1,78%, registrada em 1998. Em 2004, o índice subiu 12,41%. Para o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, o resultado se refletirá positivamente nos reajustes dos preços administrados (tarifas) para 2006, gerando menos pressão no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a inflação oficial.
- Nem todos os administrados são corrigidos pelo IGP. Alguns têm suas próprias formas de cálculos, mas o IGP acaba influenciando indiretamente porque ele é um item de custo para muitos fornecimentos.
De acordo com Quadros, os administrados, de forma geral, vão ter um reajuste em 2006 muito menor que nos anos anteriores, fazendo uma grande diferença para o consumidor não só no pagamento de contas, mas também dos serviços e produtos que são regulados por contratos, como aluguéis.
- Todos os anos, os preços administrados são o vilão da inflação. No ano que vem, eles serão os mocinhos - enfatizou Quadros, ressaltando que as taxas provavelmente vão estar abaixo da média do IPCA no primeiro trimestre de 2006.
Segundo Quadros, o responsável pela desaceleração do IGP-M foi o Índice de Preços por Atacado (IPA), que registrou deflação de 0,96% em 2005, frente aos 15,09% de igual período do ano passado. As maiores quedas no ano foram matérias-primas brutas (-7,99%) e produtos agrícolas (-6,42%).
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) também ajudou a manter o baixo valor do IGP-M, apresentando elevação de 4,98%, em 2005, frente aos 6,20% de 2004. A maior alta foi do item Transportes (9,56%) e a menor, no item Alimentação (3,03%). Já o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) variou 6,84% em 2005, ante os 10,94% de 2004.
Para Quadros, esta é uma mudança importante no cenário econômico.
- Talvez este seja o principal motivo pelo qual a expectativa do mercado financeiro hoje é de que a meta seja facilmente atingida. É resultado do comportamento favorável e esperado para os administrados.
Se cumprir a meta de inflação no próximo ano no IPCA, o Banco Central atingirá o objetivo pela primeira vez desde 2000. O sistema foi criado em 1999, depois da maxidesvalorização do real ocorrida em 13 de janeiro daquele ano.