Título: Processos de cassação agitarão a Câmara
Autor: Eruza Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 31/12/2005, Brasília, p. D1

A previsão para 2006, feita pela maior parte dos deputados distritais, não é nada otimista. Preocupados em ganhar votos no ano eleitoral, os parlamentares terão de conciliar os trabalhos legislativos, as votações de projetos de lei e as brigas internas. Para conquistar o eleitorado do Distrito Federal, eles terão ainda dar uma jeito de driblar os adversários. Nessa disputa, os colegas são vistos antes de mais nada como concorrentes e a troca de acusações terá, sabem todos, um lugar de destaque. O palco escolhido é a Corregedoria da Câmara Legislativa, órgão responsável pela análise das representações contra os membros da Casa.

- O que vai movimentar a Câmara no próximo ano são as representações contra os distritais. O prazo regimental para a análise de cada uma está sendo contado pela Corregedoria. O Legislativo deve investigar com profundidade e ver a punição que pode ser aplicada - informou a líder do PT, Érika Kokay.

Um dos primeiros da lista dos possíveis cassáveis é o deputado Benício Tavares (PMDB), acusado de participar de orgia sexual com menores em um passeio feito no rio Negro, Amazonas. O caso está sendo analisado pelo Tribunal de Justiça do DF e foi reaberto pela corregedoria.

Desde a viagem, o peemedebista adotou uma postura cautelosa para que os colegas não ressuscitem a história, mas o esforço foi em vão. O processo pode culminar na perda de mandato por quebra de decoro parlamentar.

- A tendência é que, em 2006, as coisas piorem. A base de governo, que hoje está fragmentada, vai se esfacelar ainda mais. Em abril, o deputado Vigão volta para a Câmara e o clima deve esquentar - afirmou o petista Chico Vigilante.

Confusão - A briga entre os distritais José Edmar (Prona) e Wigberto Tartuce (PMDB) também deve ter mais uma capítulo. A troca de acusações de morte entre os parlamentares não foi interrompida nem quando Vigão assumiu a Secretaria de Relações Institucionais de Cooperação entre Poderes. O peemedebista terá de se desincompatibilizar do cargo no final de março e reassumirá a sua cadeira na Casa.

- Quem acompanhou a produtividade da Câmara, percebeu que os assuntos, antes de chegarem ao plenário, foram bastante discutidos. Somente depois de muita negociação, chegava-se ao consenso. A eleição em 2006 será um fator de complicação no cenário local - disse a líder do PFL, Eliana Pedrosa.

Mesmo afirmando que o de 2005 foi frutífero, a pefelista alertou para uma problema que continua visível: a imagem negativa do Legislativo perante a opinião pública. Pedrosa afirmou, no entanto, que esse desgaste pode ser atribuído aos próprios distritais, que não conseguimos passar para a sociedade o resultado dos trabalhos desta Casa.

- A função dos parlamentares não se resume à votação de projetos. O que importa não é a quantidade de leis aprovadas, mas a qualidade. Os partidos participaram das discussões e o governo não passou o rolo compressor em ninguém - avaliou a pefelista.

Eliana Pedrosa fica no cargo de corregedora até a eleição dos novos membros das nove comissões permanentes. O ato previsto para ocorrer em fevereiro também escolherá o próximo corregedor e ouvidor da Câmara. (E.R.)