Título: Glamour e discrição são trunfos
Autor: Anne Gearan
Fonte: Jornal do Brasil, 01/01/2006, Internacional, p. A18

Uma das maiores fragilidades de uma candidatura de Condoleezza Rice é seu laço com o presidente. A aprovação pública de Bush, segundo a pesquisa da AP, é de 42%, enquanto a reprovação ficou em 57%. Foi uma evolução em relação a novembro, quando a taxa de popularidade do presidente estava em 37%. Porém ainda é pouco em comparação dos índices estratosféricos do pós-11 de setembro.

Condoleezza ainda tem que percorrer um longo caminho para convencer os céticos de que os EUA não estão empreendendo uma ação equivocada no Iraque. E ela sempre será a face pública de uma administração da qual muitos na Europa e no mundo árabe desconfiam. A opinião é de Nathan Brown, professor do Carnegie Endowment for International Peace.

- Ela pode apresentar uma imagem um pouco mais suave e amigável e nem tão omissa em assuntos como o dos maus-tratos a presos iraquianos - diz Brown - Mas há limites para o que ela pode fazer para conservar sua imagem, já que as políticas que representa são impopulares.

Há ainda o fator glamour na sua receita de sucesso. E o fato de ser a primeira negra a ocupar o máximo posto diplomático de seu país. Aos 51 anos, ela cresceu no preconceituoso Sul dos EUA. Com freqüência, Condoleezza tenta amenizar a frágil imagem de seu país no exterior, argumentando que a discriminação que sofreu é a prova de que os EUA não são perfeitos.

Ela nunca se casou e é conhecida por trabalhar muito e manter uma rigorosa rotina de exercícios. Vaidosa, ela já até posou para a revista Vogue. A fidelidade a Bush a mantém discreta em relação à própria ascensão. Embora seja considerada uma provável candidata republicana à corrida presidencial de 2008, Condoleezza diz que nunca almejou o cargo.

- Tenho muito trabalho a fazer e sei quais são meus talentos, eu acho - disse, em uma entrevista recente à Associated Press.

Na conversa, ela evitou assumir crédito por qualquer feito específico da atual administração, embora tenha se mostrado satisfeita com a reaproximação do país com a Europa depois de um período de distanciamento.

- Sou uma historiadora - disse - Costumo analisar as coisas dentro da engrenagem da História e ter a esperança de que alguém, algum dia, vai olhar em retrospecto e pensar: algo que ela fez naquela época teve importância.