Título: Condoleezza entra na corrida
Autor: Anne Gearan
Fonte: Jornal do Brasil, 01/01/2006, Internacional, p. A18

Enquanto o presidente americano, George W. Bush, vê sua credibilidade se esvair depois da Guerra do Iraque, uma estrela sobe na sua administração: a secretária de Estado, Condoleezza Rice. Atualmente a figura mais popular do governo Bush, Rice já surge como potencial candidata à sucessão presidencial.

Em seu segundo ano como a mais importante figura diplomática do governo e porta-voz da política externa, Condoleezza conseguiu se livrar da imagem pouco abonadora de ''princesa da guerra'' ao lado do presidente Bush. O apelido teria sido criado por sua equipe no Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, onde ela tinha posição de destaque como conselheira de Bush para assuntos bélicos.

A secretária de Estado defende com unhas e dentes a guerra contra o terrorismo deflagrada depois do 11 de Setembro e a ampliação dos poderes executivos de Bush, que o presidente acredita ser uma decorrência natural do atentado. Ultimamente, Condoleezza soa mais otimista que o próprio presidente a respeito do progresso da Guerra do Iraque e do futuro daquele país.

No entanto, é raro ouvir alguém atribuir a ela a autoria de qualquer um dessas políticas definidoras da administração Bush. Foi com uma mistura de carisma, sorte e distância física da Casa Branca que Condoleezza conseguiu escapar do destino de Bush e do vice-presidente, Dick Cheney, que viram seus índices de popularidade caírem a níveis recorde antes de voltarem a crescer um pouco nos últimos tempos.

Kurt Campbell, diretor do Programa de Segurança Internacional do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, credita a ascensão de Condoleezza a sua intensa agenda de viagens, à abordagem diplomática mais pragmática que a de seus colegas e à valentia.

- Ela aparenta ter driblado as controvérsias sobre os equívocos dos serviços de inteligência americanos e as táticas agressivas do governo na caça aos terroristas - afirma Campbell.

O diretor afirma ainda que a secretária parece ao mesmo tempo estar próxima do presidente e alheia aos calcanhares-de-aquiles de sua administração.

- E isso é algo muito difícil de se obter - completa.

A secretária de Estado foi uma voz governista tão ferrenha na defesa da guerra do Iraque quanto qualquer outra. Uma de suas mais famosas declarações foi dirigida a Saddam Hussein: ''Nós não queremos que uma evidência incontestável se transforme num cogumelo atômico''.

A despeito da posição de Condoleezza nas questões do Iraque, terrorismo e outros assuntos apresentados em uma audiência do Senado em janeiro passado, a maioria dos americanos não a considera responsável por essas posturas. Uma pesquisa da Pew Research de outubro mostrou que 60% dos entrevistados têm uma opinião ''favorável'' ou ''em geral favorável'' a respeito da secretária, enquanto 25% classificaram a imagem da secretária de Estado como ''desfavorável'' ou ''muito desfavorável''. São números invejáveis para outros membros do governo Bush.

Pouco depois da captura do presidente deposto do Iraque, Saddam Hussein, há dois anos, 64% dos americanos se opunham a entrar em guerra contra o Iraque. Um pesquisa da AP-Ipsos realizada este mês mostrou que agora apenas 42% consideram que a guerra foi uma decisão acertada. O apoio à permanência americana no Iraque até que o país estivesse estabilizado também caiu.