Título: Governo sem pressa de negociar o Orçamento
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 03/01/2006, País, p. A3

De volta ao Palácio do Planalto após uma semana de recesso, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, diminuiu a importância do atraso na votação do Orçamento deste ano em relação aos investimentos que o governo pretende fazer em 2006. Na avaliação do ministro, cerca de R$ 7,8 bilhões da verba empenhada como restos a pagar de 2005, de acordo com o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), serão suficientes para que o governo tenha fôlego de negociar sem pressa a aprovação do Orçamento.

O Congresso foi obrigado a fazer convocação extraordinária em janeiro, com pagamento extra de salários aos parlamentares, entre outros motivos, justamente porque o Orçamento deste ano não foi votado em dezembro passado.

O ministro disse que nem mesmo projetos como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb), que precisará ser votado antes do Orçamento, terão prejuízo com o atraso. Ontem, no programa semanal de rádio, o presidente Lula voltou a pedir aos parlamentares a aprovação do Fundeb como prioridade. O projeto precisa de dotação de R$ 1,3 bilhão para entrar em vigência a partir de 2006.

- Se isso não acontecer, as crianças brasileiras perderão um ano, o que não é bom para as crianças e eu acredito que não é bom para o Brasil - disse Lula, no ''Café com o Presidente''.

Em reunião pela manhã, Wagner conversou com o presidente Lula sobre as prioridades do governo no Legislativo nesse ano, dentre elas a Lei Geral de Micro e Pequenas Empresas. Também falou sobre a repercussão da entrevista concedida por Lula ao programa Fantástico, da TV Globo, no PT. Na avaliação do presidente, o PT ainda iria ''sangrar'' muito para recuperar o prestígio que tinha antes de protagonizar o escândalo de corrupção por compra de deputados e caixa dois, práticas combatidas durante toda a história pregressa da legenda.

Para o ministro, o partido já pagou o preço político pelo que cometeu. Ainda há espaço para novas cassações dentro do PT, no Congresso, mas o principal prejuízo político já estaria consolidado, na avaliação de Wagner.

- A perda maior se deu quando alguns membros do partido se deixaram tragar por uma máquina viciada. Esse prejuízo já está consolidado, e por mais que a oposição tente alongar a crise diante da opinião pública, não há como aumentar o preço pago pelo PT - disse o ministro.

Wagner ainda negou que a demora do presidente Lula em se declarar candidato à reeleição seja uma estratégia eleitoral ou tenha alguma ligação com a crise política.

- O presidente faz uma reflexão sincera. Quem conversa com ele todo dia sabe que o desafio da disputa é estimulante para ele. E a oposição sabe que Lula ainda é um candidato forte - afirmou o ministro, acrescentando que até fevereiro Lula deve se decidir sobre sua candidatura.