Título: Lula anuncia pacote de obras para ano eleitoral
Autor: Fernando Exman e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 04/01/2006, País, p. A2

O governo federal demonstrou nos últimos dias que efetivamente pretende transformar 2006 no ano das realizações e fazer no ano eleitoral o que não realizou ao longo de três de governo. Além do plano emergencial para tapar buracos em rodovias federais e estaduais, o Planalto anunciou o cronograma de leilões de licitações de hidrelétricas, rodovias e ferrovias que têm como objetivo mobilizar a iniciativa privada a investir na infra-estrutura do País. Com pressa em aquecer o setor durante o ano eleitoral, o governo anunciou para 15 de abril a licitação de oito lotes de rodovias federais, totalizando 3 mil quilômetros de estradas, e para março a licitação do trecho Norte da ferrovia Norte-Sul. O governo vai manter o plano de leiloar trechos da Régis Bittencourt (BR-116) entre São Paulo e Curitiba e os quase 600 km da Fernão Dias (BR-381) entre Belo Horizonte e a capital paulista.

Em maio, será a vez do leilão de energia nova, que licitará seis usinas hidrelétricas.

A porta-voz das ações foi a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que ontem em entrevista seguiu a já consagrada retórica da ''herança maldita'' e não perdeu a oportunidade de criticar o governo anterior, o qual ela responsabilizou por um ''apagão de planejamento'' nos setores de energia e transportes que teria impedido a realização de licitações já no início do governo Lula.

- Recebemos 36 mil quilômetros de rodovias sucateadas - afirmou a ministra, complementando que o atual governo assumiu o poder em um cenário de câmbio desfavorável e inflação próxima ao descontrole.

No final do ano passado, a ministra da Casa Civil entrou em debate público com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre o nível do superávit primário do setor público brasileiro. Na época, Dilma criticou de forma contundente a rigorosa política fiscal, defendendo que esta não deveria ser conservadora a ponto de inviabilizar investimentos públicos. O fogo amigo criou um mal-estar dentro do governo e chegou a gerar rumores de que o titular da Fazenda sairia.

- Nós estamos fazendo duas coisas agora. A primeira é correr atrás da máquina, na tentativa de cobrir o tempo perdido em 10 anos sem investimento no setor. A segunda é abrir novas estradas - explica Dilma.

Para o final do mês está programado o lançamento do edital de concessão do trecho Norte da ferrovia Norte-Sul, ligando os municípios de Açailândia (MA) e Palmas (TO). Ainda não existem cálculos sobre o valor da obra, mas o governo estima que o processo de concessão deverá render cerca de US 200 milhões acima do montante de custo da ferrovia.

- Há 25 anos que o brasil não tem um investimento desse porte em ferrovias - disse Dilma, reforçando a crítica a governos anteriores e o novo tom empreendedor que o governo pretende assumir em 2006.

A ministra ainda anunciou a licitação de seis usinas hidrelétricas para o final de maio, com vistas a suprir a demanda por energia do país até 2010. As obras das usinas devem se iniciar em 2006. Duas delas serão localizadas no leito do rio Madeira, em Rondônia, e deverão demandar investimentos da ordem de US 6,7 bilhões. As outras quatro não foram leiloadas no ano passado por falta de licenciamento ambiental.