Título: Acordo para evitar cassações
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 04/01/2006, País, p. A3

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), advertiu ontem que o Congresso Nacional vai pagar caro pelo suposto ''acordão'' de alguns partidos para não cassar os deputados que receberam o mensalão. Muitos parlamentares não têm mais dúvidas de que o acordo existe. Para o relator, a não cassação do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), em dezembro, expôs a manobra. - Ficamos com algum nível de convencimento de que algo tramado ocorreu - diz Serraglio.

Para o relator, muitos parlamentares que receberam o mensalão estão com a situação ''insustentável'' na Câmara, frente às provas que surgiram ao longo das investigações. Serraglio teme que se alastrem pelo país campanhas pelo voto nulo, como resposta à falta de depuração na Câmara dos Deputados.

- Vai ficar difícil para nós, políticos, enfrentarmos a população - disse o relator.

Até o fim de fevereiro, Serraglio deve apresentar seu relatório definitivo. Ele esclarece que o documento não vai incluir ''provas matemáticas'' contra alguns políticos, mas um conjunto de provas e indícios que, somados, levam à conclusão sobre a existência de um esquema de corrupção. O relator lamentou que vários políticos do PT, incluindo o presidente Lula, insistam na tese de que que não há provas sobre a corrupção.

- O Lula admitiu os erros. Que ele faça o corte. Ele confirmou o que levantamos - afirma Serraglio.

Outros parlamentares não têm mais dúvidas da existência do acordão. O deputado Jamil Murad, do PC do B paulista, afirmou que é possível ''sentir o acordão no ar'' que circula no Congresso.

Murad lamenta que o entendimento entre os parlamentares possa beneficiar também pessoas investigadas. Ele pediu que a CPI dos Correios firme posição para tentar facilitar o acesso de parlamentares ao disco rígido do Banco Opportunity, de Daniel Dantas, suspeito de ser um dos financiadores do mensalão.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) não acredita na existência de um ''acordão'' entre os partidos. Paes admite, no entanto, que alguns parlamentares que receberam o mensalão, que estão na lista de possíveis cassações, deverão ser perdoados na Câmara.

- Há um corporativismo ferrenho. É por isso que os deputados envolvidos não empobreceram, não andam pelos cantos e estão gordinhos e bronzeados - ironiza Eduardo Paes.

O deputado Babá (PSOL-PA), acredita que o ''acordão'' vai representar o perdão para muitos parlamentares que receberam o mensalão.

- O PT está se aliando a outros partidos para salvar os seus - diz o parlamentar.