Título: Inflação sob fogo cruzado
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 04/01/2006, Economia & Negócios, p. A15

Embora o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) tenha registrado a menor variação da história, de 1,21% - o que reduzirá o impacto dos preços administrados na inflação deste ano - a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, não poupa o indicador. Em relatório de dezembro, a Seae faz duras críticas à adoção dos Índices Gerais de Preços (IGPs) da Fundação Getulio Vargas como indexadores das tarifas de energia e telefonia. O documento diz que o mais adequado seria a adoção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE e reedita a disputa dos indicadores em plena temporada de ventos positivos ao consumidor.

Além do baixo resultado registrado pelo IGP-M em 2005, o mercado, segundo o boletim Focus do BC, espera um Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) ainda menor, de 1,16% para o ano passado. É o IGP-DI que corrige, atualmente, as tarifas de telefonia fixa. Já o IGP-M, além das tarifas de energia, é usado nos reajustes de aluguéis.

Para a Seae, a volatilidade dos IGPs é prejudicial ao controle da inflação, já que o indicador é mais vulnerável a choques no câmbio. De acordo com documento da secretaria, os índices da FGV ''têm comportamento mais imprevisível'' ao longo do tempo.

O relatório frisa que desde maio de 1995 os preços administrados subiram 339%, enquanto o IPCA avançou 126% e a inflação dos produtos com preços livres acumulou alta de 93%.

''Na medida em que a volatilidade das tarifas acaba tendo reflexos no IPCA, isso implica a adoção de uma política monetária mais restritiva por parte do Banco Central para gerenciar esta volatilidade'', diz o estudo.

O documento representa a primeira posição oficial dentro do Ministério da Fazenda a favor da troca dos IGPs pelo IPCA. No início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o então ministro das Telecomunicações, Miro Teixeira, defendeu a mudança dos indexadores para a telefonia, o que motivou um acordo entre a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as companhias do setor para a troca para um índice setorial, o IST, que entrará em vigor este ano.

O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, vê com bons olhos a proposta da Seae. Para ele, são ''raríssimos'' os anos em que o IPCA sobe mais que os IGPs - como 2005. Opinião semelhante tem Carlos Thadeu de Freitas, economista da CNC e ex-diretor do BC. Segundo ele, o IPCA reflete os preços do varejo e não incorpora choques internos e externos.

- A idéia é boa, mas depende de negociação com as empresas. O problema é que este relatório saiu na hora em que o consumidor vai ganhar com os IGPs baixos.

O caminho já trilhado nas telecomunicações, também não é a melhor saída. O documento da Seae aponta que os índices setoriais são insatisfatórios para dar conta de reajustes de tarifas.

''O problema dos índices que acompanham a evolução de custos setoriais é que isso conytraria o cerne da regulação por incentivos (...) para cortes de custos''.