Título: Campanha contra ''acordão''
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 05/01/2006, País, p. A3

A possibilidade de um ''acordão'' que livraria os deputados envolvidos no escândalo do mensalão já mobiliza parlamentares que querem evitar a impunidade no Congresso. O presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), afirmou ontem que vai procurar o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), para discutir uma ''campanha aberta'' contra a impunidade.

O deputado petista Walter Pinheiro (BA) disse que já procurou a liderança do PT na Câmara para tratar do assunto.

- Temos que ter uma postura firme contra isto. O acordo que ocorreu para a absolvição do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) não pode se repetir - afirmou Pinheiro.

Para o deputado baiano o acordão não é uma hipótese, mas sim um fato consumado.

- Este acordo não guarda relação institucional com qualquer instância do PT ou com o governo. O governo não se meteu nisto. O acordo está sendo costurado entre os envolvidos e temos que ter uma postura firme contra qualquer tipo de acordo - completou Pinheiro.

Na opinião de Pinheiro, a absolvição de Queiroz no plenário, de forma contrária à orientação do Conselho de Ética que pediu a cassação do mandato do deputado mineiro, desmascarou o acordo e ''o próximo acusado com certeza será cassado, seja ele quem for''. Ele afirma que o sigilo do voto na cassação ainda é um dos principais problemas.

- O voto é secreto. Como é que eu provo na minha base como eu votei? Não tem como. Todo mundo fala de acordão e acha que todos os deputados estão atuando juntos para se proteger - criticou.

Josias Gomes (PT-BA), um dos deputados ameaçados de cassação rebateu ontem que exista um suposto acordo entre os parlamentares para livrar os envolvidos no escândalo. Gomes criticou a imprensa por fazer, segundo ele, ''ilações'' sobre o Congresso.

- Isso não existe (o acordo). Vamos discutir os problemas do país, em vez de repercutir algo não é verdade - afirmou o petista que é citado no relatório das CPIs dos Correios e do Mensalão como um dos beneficiados pelos saques feito nas contas de Marcos Valério Fernandes de Souza.

Para o presidente do Conselho de Ética a absolvição de Queiroz foi o primeiro indício do acordão.

- Nós ainda não temos provas. Se soubermos de algum tipo de acordo vamos lutar abertamente. Fazer muito barulho e não deixar qualquer acordo prosperar - avisou.

De acordo com Izar, a absolvição de Queiroz ''caiu como uma bomba'' no Conselho.

- Foi uma surpresa. Ninguém esperava. Trouxe um certo desalento e serviu para nos prevenir sobre possíveis acordos. O Conselho não teme nem absolver nem condenar ninguém. O plenário deveria seguir o exemplo - disse Izar.