Título: Denúncia de acordo irrita Aldo
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 05/01/2006, País, p. A3

As declarações do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, de que um ''acordão'' estaria sendo costurado com o objetivo de diminuir o número de parlamentares cassados, provocaram uma reação indignada do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Um dos poucos presentes na Casa ontem, Aldo disse ter certeza de que não há qualquer chance de os partidos envolvidos no escândalo conseguirem inflar um colete salva-vidas para ninguém. O argumento estaria nas próprias decisões do Conselho de Ética. Segundo o presidente da Câmara, a comissão, por ser menor, era o único local onde poderia se fechar um acordo. Porém, a hipótese tem de ser descartada uma vez que ''seus integrantes já demonstraram que se conduzem com independência''. Nessa mesma linha de raciocínio, Aldo também não acredita na possibilidade de acordo durante os julgamentos no Plenário.

- Não acredito na possibilidade de um acordo, nem para cassação nem para absolvição. Acho muito difícil um acordo com 513 deputados.

Para o presidente da Câmara, a absolvição ou cassação de algum deputado será uma decisão individual. O que deve prevalecer, segundo ele, é a ''consciência de cada parlamentar''.

- As pessoas podem oferecer suas opiniões, mas só as votações poderão esclarecer qualquer dúvida - disse.

Serraglio sentiu o peso de suas declarações e acabou se justificando logo cedo. Declarou que foi mal interpretado:

- Os partidos envolvidos no episódio do mensalão têm uma expressão forte de votos, suficiente para dificultar qualquer cassação. Então, se eles se orquestrarem, tornarão insuficiente todo o esforço de investigação que nós procedemos - afirmou.

Antes mesmo das declarações de Serraglio, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) já havia denunciado o ''acordão''. Há algumas semanas, em entrevista ao JB, Jefferson afirmou que PT e PSDB haviam firmado o compromisso. Sacrificariam os mandatos de Jefferson e José Dirceu (PT-SP) como prova de punição, mas trabalhariam para livrar os outros envolvidos no escândalo do mensalão.

Apesar das especulações de que a pizza das cassações estaria sendo servida, o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), também negou que haja qualquer acordo fechado dentro da comissão. Segundo ele, a decisão no Conselho será unânime e vai seguir a ''coerência''. Quem for pego com as digitais cravadas nos recibos de saques do valerioduto, não têm chances de se salvar. O Conselho vai recomendar a cassação do mandato ao plenário. Porém, Izar não descarta a possibilidade de que o ''acordão'' possa estar sendo fechado para o plenário.

- O Conselho não teme nem absolver nem condenar ninguém. O plenário deveria seguir este exemplo.

O Conselho de Ética começa a próxima semana com muita expectativa de cumprir a agenda programada. Mas poucas são as chances de as suas atividades decolarem na primeira semana de funcionamento depois do recesso. Das nove testemunhas arroladas para depor, apenas quatro, confirmaram presença. As outras cinco, são do deputado João Magno (PT-MG). E em função da comunicação de que o advogado de defesa do petista não estará em Brasília na próxima semana, os depoimentos foram transferidos para a semana do dia 16.

Mesmo assim, Izar continua otimista com as atividades previstas para a próxima semana, mas na prática, nada vai mudar. Segundo ele, pelo menos quatro relatórios serão entregues. No entanto, só com o funcionamento das sessões plenárias - para a contagem dos prazos de defesa - é que efetivamente o conselho poderá apresentar e apreciar os votos de pelo menos quatro relatores.