Título: Operações do BMG com Valério somam R$ 68 mi
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 05/01/2006, País, p. A4

O Banco Central encontrou irregularidades nos empréstimos que o Banco BMG fez para o Partido dos Trabalhadores e para as empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como o operador do mensalão. Nos últimos sete anos - segundo documento sigiloso que o BC enviou à presidência da CPI dos Correios - o BMG cometeu mais de 170 irregularidades contábeis e financeiras.

As irregularidades dos empréstimos ao PT e a Valério são mencionadas em uma planilha com um extenso quadro das auditorias e inspeções feitas pelo BC no BMG. O documento foi enviado à CPI no último dia 28. Em uma das ''inspeções modulares'' no BMG - feita no ano passado - os técnicos do BC fizeram um pente fino na área de tesouraria, carteira comercial, créditos consignados, cessões de crédito e carteira de crédito.

O BC informou à CPI que já expediu cartas de inspeção ao BMG apontando 10 irregularidades relativas à falta de provisão de operações de crédito, classificações de risco indevidas, contabilizações incorretas e controles internos. O BC determinou ao BMG ''ajustes regulamentares'' no valor de R$ 68,6 milhões e a reclassificação de diversas operações de crédito, incluindo as que beneficiaram o PT, a SMP&B Comunicação e a Graffiti Participações, de Marcos Valério. O processo está ''em análise'' pelo Banco Central.

O PT contraiu R$ 2,4 milhões em empréstimos junto ao BMG, valor que corrigido atinge hoje cerca de R$ 3 milhões. Os avalistas da operação foram o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e Marcos Valério Fernandes de Souza, que contraiu mais de R$ 30 milhões (não corrigidos) em empréstimos junto ao mesmo banco, dinheiro distribuído no caixa 2 do PT.

O pedido de informações com os empréstimos do BMG foi feito em em julho pelo presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), diretamente ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. No pedido consta ainda solicitação de informações completas sobre a fiscalização no Banco Rural e no Banco do Brasil. A Diretoria de Fiscalização enviou ofício à CPI explicando a ''expressiva quantidade'' de fiscalizações contra os bancos, antecipando a planilha de auditorias no BMG. Ao todo, a documentação do BMG envolve 24 processos, com 77 volumes e 9 mil páginas. Os processos que investigam o Banco Rural superam em volume os do BMG, informa o Banco Central.

Com a planilha em mãos, os parlamentares da CPI deverão solicitar ao BC as cópias de algumas inspeções e auditorias, especialmente a que encontrou irregularidades nos empréstimos ao PT e às empresas de Valério. Só a partir do envio do processo completo é que os deputados poderão destrinchar os problemas encontrados na inspeção modular.

Na planilha de fiscalizações, o BC dá detalhes de todos os problemas que ocorrem no BMG nos últimos sete anos. Em 1998, uma inspeção global encontrou 92 irregularidades no banco, incluindo problemas de contabilização, o que levou o BC a determinar ajustes regulamentares no valor total de R$ 26,7 milhões.

No ano 2000, o Banco Central encontrou outras 39 irregularidades em apenas uma das verificações especiais feitas no BMG. Em 2001, outras 10 irregularidades foram identificadas em uma inspeção modular. Em 2003, o BC encontrou outras 21 irregularidades econômico-financeiras e determinou ao BMG ajustes regulamentares no valor de R$ 15 milhões. Grande parte destes processos foi arquivada após o BC impor as determinações ao banco.

Por intermédio de sua assessoria de imprensa, o BMG informou que o BC mandou reclassificar as operações de crédito só depois que veio à tona a denúncia do mensalão. Antes da denúncia do mensalão, segundo a assessoria, os empréstimos eram considerados normais. Os empréstimos foram feitos em 2003 e 2004, segundo a assessoria, época em que o PT era o partido da ética e Valério um empresário respeitado. O BMG informou que, após receber as determinações do BC, alterou o provisionamento e mudou as taxas de risco. O banco está executando as operações de crédito feitas.