Título: Emendas viram privilégio
Autor: Mariana Santos e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 05/01/2006, País, p. A6

Entre os poucos privilegiados com 100% de emendas parlamentares empenhadas, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) está satisfeito. Ele avalia o resultado como ''algo normal para quem se esforçou muito durante todo o ano''. Segundo Nogueira, como os projetos foram apresentados no início do ano, foram liberados cedo e não se confundiram com os daqueles que ''correram atrás na última hora''.

Somadas, as emendas do deputado chegam a R$ 500 mil, liberadas entre os meses de setembro e novembro. Numa incrível coincidência, o período é o mesmo em que Nogueira, à frente da presidência da Corregedoria, teve de tocar a investigação de vários parlamentares envolvidos no mensalão.

- Se especularem que foi moeda de barganha, então deram azar. Até porque denunciei todo mundo - afirmou.

À época, porém, a corregedoria comandada por ele preferiu não apontar nenhum veredito. Deixou a bola para o Conselho de Ética que, no olho do furacão de denúncias, viu-se com 18 deputados representados.

Presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), não foi tão bem tratado como esperava. Com pouco mais de 85% de suas emendas empenhadas, Izar achou que seu desempenho em 2005 foi baixo.

- Com o corre-corre do Conselho não tive tempo de correr atrás. Não fui a nenhum ministério, só dei alguns telefonemas. Mas se olharem em outros anos, vão ver que sempre consigo empenhar 100% das minhas emendas - diz.

Parlamentares que integram a linha de frente de ataque ao governo nas CPIs e no Conselho de Ética não têm do que reclamar. Apesar de sustentarem uma dura oposição ao Planalto, boa parte de senadores e deputados foram agraciados com o empenho de suas emendas no final em dezembro, quando o governo destinou R$ 7,8 milhões às emendas parlamentares. Alguns receberam um valor maior do que o repassado a parlamentares da própria base governista.

O senador José Jorge (PFL-PE), um dos integrantes da CPI dos Bingos que mais embaraça o governo foi um dos beneficiados com um grande volume de emendas emplacadas. Segundo levantamento feito o PFL - até 29 de dezembro - apenas nas duas últimas semanas do ano, mais de R$ 740 mil do pefelista foram empenhados. O montante corresponde a 70% de todas as suas emendas no ano passado.

Outro presenteado no fim do ano foi o senador César Borges (PFL-BA). À frente de boa parte do barulho produzido pela oposição na CPI dos Correios, o parlamentar baiano conseguiu liberar pelo menos R$ 500 mil de emendas, destinadas a entidades filantrópicas da região pobre de Salvador.

O próprio César Borges admite que esperava prioridade absoluta para petistas, seguidos por parlamentares aliados e, por último, oposicionistas.

- No entanto, acho normal e justo. O dinheiro não é dele [governo], é público. Se o governo adotar isso de modo geral, vou até reconhecer e aplaudir - disse o senador, ressaltando que só acreditará na realização nas emendas quando as mesmas estiverem pagas. César Borges garante ainda que vai continuar atuando no ataque ao governo.

De acordo com a chefe da Casa Civil, Dilma Rouseff, a liberação de emendas depende da relevância dos projetos.