Título: Acidente deixou apenas um sobrevivente
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/01/2006, Internacional, p. A7
O sobrevivente da explosão na Mina de Sago, Randal McCloy, de 27 anos, foi retirado inconsciente dos escombros, mas gemia ao chegar no hospital. O mineiro foi logo transferido para uma unidade de tratamento intensivo no Ruby Memory Hospital, em Morgantown, e continua em estado crítico, sob efeito de sedativos e respirando com a ajuda de aparelhos. Aparentemente, está com um pulmão em colapso e bastante desidratado. No entanto, os médicos não constataram qualquer sinal de dano no cérebro por falta de oxigenação.
- Ele responde muito bem aos estímulos. Não detectamos envenenamento por monóxido de carbono - afirmou Lawrence Roberts.
O médico não sabe explicar ainda porque McCloy foi o único a sobreviver. Mas tem um palpite:
- Os jovens sempre têm vantagens físicas sobre os mais velhos.
Apesar da boa notícia, os McCloy não acreditam que tenham motivo para comemorar.
- Estamos arrasados. Nossos corações estão com as outras famílias em luto - disse o padrasto de Randal, Charles Green.
Os 11 mineiros encontrados mortos ontem - um corpo fora resgatado na terça-feira à noite - estavam juntos, a 80 m abaixo da superfície, atrás de uma barreira que haviam construído para bloquear a entrada do monóxido de carbono, gerado pela explosão. Todos estavam perto de um buraco cavado pela companhia International Coal Group (ICG), na terça de manhã, para tentar contactá-los.
O buraco também foi usado para averiguar a qualidade do ar dentro da mina, quando descobriu-se a alta concentração de monóxido de carbono - três vezes acima do normal. Em altas doses, é letal. Se estiver num nível baixo, pode causar dores de cabeça, tonteira, desorientação, náusea, fadiga e danos cerebrais.
Para tentar se proteger destes efeitos, os mineiros estenderam um pedaço de tecido grosso por uma área de 6 m de largura para bloquear o gás, como recomenda o ICG. Cada um também carregava um aparelho de respiração e todos tiveram oportunidade de usá-lo, afirmaram autoridades da empresa de mineração.
A explosão foi a pior na Virgínia Ocidental desde novembro de 1968, quando 78 homens - incluindo um primo do governador Joe Manchin - morreram em uma explosão na mina número 9 de Consol's Farmington, no condado de Marion. Dezenove corpos tiveram de ser deixados enterrados na montanha. Foi este desastre que levou o Congresso americano a aprovar a lei para a segurança e saúde em minas, em 1969.
Também é o acidente subterrâneo mais letal dos Estados Unidos desde 23 de setembro de 2001, quando 13 mineiros morreram em uma detonação na mina número 5 em Brookwood (Alabama).
O Departamento Federal de Trabalho já anunciou que vai abrir inquérito sobre o acidente em Tallmansville. David Dye, que chefia a Administração de Saúde e Segurança de Minas, afirmou que a investigação vai incluir ''em que foram baseadas as informações de emergência sobre as condições dos mineiros''.
- É uma trágica perda - resumiu o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.