Título: Gaza mergulha na anarquia
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/01/2006, Internacional, p. A8

Homens armados ligados à facção Fatah, a mesma do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, demoliram um pedaço da barreira na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza, onde a anarquia prevalece e a insegurança se agrava a três semanas das eleições palestinas. Depois de se apossar de um trator da municipalidade, os ativistas armados destruíram parte da barreira de concreto no ponto de passagem de Rafah, cavando uma brecha de oito metros. A polícia egípcia abriu fogo, mas 300 pessoas conseguiram passar. A confusão forçou a União Européia a cobrar de Abbas que restabeleça o controle na região.

O ataque ao muro foi a forma de os ativistas do Fatah protestarem contra a detenção, na terça-feira, de um de seus membros, Alaa al-Hams, pelos serviços de segurança palestinos. Hams é suspeito de ter participado do seqüestro de três britânicos na semana passada. A agitação começou de manhã, com grupos armados pedindo a soltura de Hams, líder de uma célula das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, um movimento radical vinculado ao Fatah.

Em flagrante desafio à autoridade da ANP, o grupo bloqueou o terminal fronteiriço à passagem, ocupou um escritório da Comissão Eleitoral e fechou edifícios públicos. Pelo menos 100 milicianos se posicionaram na entrada, proibindo aos passageiros de entrar e obrigando os presentes a deixar o local. No início da noite, membros das Brigadas tentaram seqüestrar, ainda em Rafah, os pais de uma pacifista americana morta esmagada por um buldôzer israelense em 2003.

Em visita à Gaza, Craig e Cindy Corrie, os pais de Rachel Corrie, estavam hospedados com outros americanos por um farmacêutico palestino.

- Consegui demovê-los com a ajuda dos vizinhos, entre os quais havia um membro dos serviços de segurança, explicando a eles que os pais de uma ativista pró-palestina estavam entre os estrangeiros - disse o farmacêutico.

Depois desses incidentes, o ministro palestino do Interior, Nasr Yussef, convocou uma reunião com representantes dos diversos movimentos palestinos e responsáveis pela segurança. Ao término, Yussef declarou ter sugerido que as armas das facções sejam recolhidas durante o período eleitoral. O arsenal ficaria em poder da polícia e de grupos de Direitos Humanos, mas não houve acordo.