Título: Mudança contra o consumidor
Autor: Fernanda Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 06/01/2006, Economia & Negócios, p. A19
A inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), atingiu no ano passado a mais baixa taxa dos últimos 60 anos (1,22%), o que deve garantir um reajuste mais suave nas contas do telefone fixo. O efeito, segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, só não será mais positivo porque o indicador está sendo trocado por outro indexador, o Índice Setorial de Telecomunicações (IST), que entra em vigor este ano. - Em 2006, o aumento da telefonia deve ser menor que o do ano passado, que foi de 5,53%. Porém, deve ser maior do que se o critério de reajuste fosse só o IGP-DI, já que, para 2006 - avalia Quadros. - Em 2006, o dólar ainda deverá manter o IGP baixo pelo menos nos primeiros meses do ano.
Segundo Quadros, se fosse contabilizado apenas o IGP-DI, o reajuste poderia ser de 2,5%. Com a nova composição, o aumento pode chegar a 4%.
- Como o reajuste da telefonia é feito no segundo semestre e ocorre com uma taxa de 12 meses, então ele será calculado pelo IGP-DI de julho a dezembro de 2005 mais os índices do IST de janeiro a junho deste ano - explicou Quadros.
Para o coordenador, com o novo índice, o consumidor deverá ficar mais vulnerável a oscilações de preços:
- Se os reajustes forem feitos só pelo índice setorial, as empresas deverão fazer os repasses de seus custos automaticamente e, com isso, o consumidor poderá sentir um aumento maior em alguns momentos - avalia Quadros. - Estão sendo realizadas experiências. Se a regulação toda concentrada nos IGPs gerou muita crítica, então vamos fazer a troca. Alguns estão trocando IGP por IPCA, que é geral por geral. Outras regulações estão optando pelas variações setoriais.
O resultado do IGP-DI em 2005, o menor da série histórica do índice, foi resultado, principalmente, da queda do dólar.
- À medida que o dólar se desvalorizou, as cotações de commodities e de uma série de produtos industriais, que são direta ou indiretamente ligadas ao câmbio, caíram ou, pelos menos, subiram num ritmo muito inferior. Isso fez com que o IPA (Índice de Preços por Atacado, com peso de 60% no IGP) em 2005, depois de ter subido mais de 14% em 2004, terminasse o ano negativo (-0,97%) - explicou.
Já os 4,93% acumulados no ano pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) - que tem peso de 30% no IGP - , foi puxado pelas pelas tarifas de ônibus urbanos (14,26%), eletricidade (7,70%) e planos de saúde (11,72%). O Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) ficou em 6,84% em 2005. Em dezembro, O IGP-DI variou 0,07%, ante ao 0,33% registrado em novembro. O IPA caiu 0,14% em dezembro, frente ao 0,24% do mês anterior. Já o IPC diminuiu de 0,57% para 0,46%, enquanto o INCC avançou de 0,28% para 0,37%.