Título: Nova crise
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Opinião, p. A9
A nova crise do álcool - balizada pelo aumento do preço e pelo desabastecimento do produto - revela um equívoco estratégico do governo na mediação com o setor. Primeiro incentivou-se uma mudança na matriz energética de transporte - hoje, mais de 70% dos automóveis vendidos no país são bicombustíveis (uma notável ferramenta oferecida ao consumidor, diga-se, pois lhe garantiu poder de arbitragem num mercado habitualmente problemático). Prevê-se que, em três anos, outros 25% do consumo também sejam de álcool, num curto prazo de tempo metade da frota brasileira dependerá do produto. Em contrapartida, nos últimos anos, apesar da preocupação de alguns de seus integrantes, o governo deu pouca atenção à produção do setor sucroalcooleiro. Faltam-lhe desde financiamento até infra-estrutura - isso para um setor que se constitui num dos pilares fundamentais do agronegócio brasileiro.
Não é tudo, porém. A disputa entre produtores e distribuidores para definir os culpados pela alta do álcool relembrou controvérsias do passado. Produtores se dizem reféns das distribuidoras, em função da ausência de contratos de longo prazo de compra de álcool - o que ajudaria a conter a flutuação de preços (acentuada agora pela entressafra, que termina em abril). Distribuidores, por outro lado, afirma que os usineiros produzem menos álcool diante da alta dos preços internacionais do açúcar. A ação contribui para elevar o preço doméstico do combustível.
Estoques em queda, preços disparados, a crise exige enfáticas respostas do governo. A quantidade de álcool anidro a ser misturado à gasolina vendida nos postos é uma das saídas previstas, pois diminuiria a demanda. O importante, contudo, é que se evite as habituais ingerências políticas. E que se possa regular com mais eficiência a complexa relação entre produtores, distribuidores e consumidores.