Título: Tempo de mudança
Autor: Carlos Dias
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Outras Opiniões, p. A10
Ao longo deste ano assistimos na área pública a uma série de fatos que abalaram, ainda mais, a credibilidade da classe política. Fatos de extrema gravidade, que tangenciam ou invadem de forma contundente as esferas da moral e da ética no exercício da vida pública, têm pautado a ordem do dia do país. Como afirmam cientistas sociais e filósofos independentes, nenhuma civilização sobrevive sem um fundamento universal, que a motive do ponto de vista das idéias e dos ideais e a oriente do ponto de vista ético. É urgente investir numa ação de reedificação dos valores e conjuntamente numa reforma da administração pública, política e técnica, que responda à própria razão da existência da organização estatal.
Essa reforma, aguardada pela sociedade brasileira, deve conjugar competência e esperança, virtudes que no modelo atual não aparecem pelo fato de a classe política ter um comportamento divorciado do bem comum e, de forma insistente, atuar segundo interesses, e não segundo valores.
A competência, na administração pública, necessariamente não significa, como hoje, frieza e insensibilidade próprias de fórmulas matemáticas discutíveis, condenando milhões à pobreza. Antes deveriam refletir a capacidade de sentir e perceber, que o interesse válido é o do bem estar da população e de cada cidadão, sujeito primeiro e último das ações dos gestores públicos.
Para tanto, os compromissos estabelecidos nos orçamentos governamentais devem ser impositivos aos administradores públicos, jamais permitindo remanejamentos absurdos da ordem de 30% como hoje. Além disso, devemos introduzir o conceito de metas sociais, trabalhando na promoção humana e renegando o assistencialismo populista, que de fato representa a nova face da escravidão agora exacerbada pela criminalidade eleitoral.
Focando o Estado do Rio de Janeiro, vemos que a situação é semelhante e igualmente deprimente.
Setores básicos, como educação, saúde, segurança pública, habitação e assistência social tornaram-se áreas de baixíssimos resultados há pelo menos 12 anos, e os transtornos sociais são visíveis, tanto quanto a incapacidade dos gestores atuais em enfrentá-los do ponto de vista das soluções dos problemas administrativos, quanto da própria impregnação das estruturas públicas pelo vírus da corrupção.
A incompetência e a corrupção associadas estão abalando a crença dos investidores em áreas produtivas, não só pela complexidade das operações como por seus custos, mas também, pela necessidade de planejamento e organização da máquina pública, o que tem impactado negativamente a geração de empregos formais e suas garantias.
Resumindo, incompetência, corrupção político-administrativa, taxa de juros alta, carga tributária elevada e serviços públicos de baixíssima qualidade, estes são os principais ingredientes de nosso subdesenvolvimento.
Contudo, esperança é a virtude de aspirar a felicidade e proteger-se do desânimo e competência é a ação necessária para produzir mudança eficaz, estabelecendo um novo período político-administrativo.
A conjugação da esperança com a competência deve significar suficiência material para o nosso povo e arrojo moral para os detentores do poder na implementação de tais mudanças.