Título: Baleias 'falam' em dialetos
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Ciência, p. A11

Assim como os seres humanos, as baleias falam diferentes 'dialetos', dependendo da região onde habitam. Isso acontece até mesmo com indivíduos da mesma espécie. A baleias azuis que vivem a Oeste do Oceano Pacífico emitem sons diferentes das que ficam próximas a costa da Antártica, que também diferem das que nadam próximas ao Chile. A principal aplicação da descoberta de pesquisadores americanos vai ajudar na preservação das espécies estudadas - baleia-azul, baleia-franca e baleias-cachalote -, ameaçadas de extinção.

- As do Pacífico Oriental emitem pulsos muito graves, seguidos de um tom (som contínuo), enquanto outras populações utilizam diferentes combinações de pulsos e tons - explica David Mellinger, professor do Centro de Ciência Marinha Hatfield, da Universidade Estadual de Oregon, nos Estados Unidos.

As observação das nuances entre esses espécimes em futuros trabalhos poderão trazer soluções ecológicas ao risco que muitos desses cetáceos correm. Essa nova ferramenta possibilita delimitar o ambiente em que vivem e identificar as ameaças potenciais à sua conservação - por exemplo, a ação do homem - esclarece ao JB Alexandre Azevedo, pesquisador do projeto Maqua (mamíferos aquáticos) do Departamento de Oceanografia da Universidade do Estado Rio de Janeiro.

- Além disso, essas diferenças podem direcionar estudos sobre o comportamento desses animais - acrescenta o especialista.

Pesquisadores verificaram, por exemplo, a presença de uma quantidade de baleias cachalote no inverno duas vezes maior do que no verão, o que indicou uma atividade surpreendente.

Mellinger classifica como incrível a constatação de que as baleias ''falam'' vários dialetos, mas revela que o fato ainda não tem uma explicação definida.

- Não sabemos se ocorre devido a causas genéticas ou se são sons emitidos por filhotes que ainda não aprenderam as complexidades do sistema de comunicação - admite o professor.

Alexandre Azevedo faz uma analogia entre as baleias e os sotaques nas regiões brasileiras.

- Os paulistas, baianos e cariocas desenvolveram um modo de falar que foi passando de geração em geração e permanecendo nesses locais devido a um certo isolamento, pode ter acontecido isso também com as baleias - compara o pesquisador.

Azevedo também especula que as variação na linguagem pode ser por causa de uma diferença no aparelho fonador do animal (que emite os sons).

Para registrar os ruídos feitos pelas baleias, nos últimos cinco anos os pesquisadores utilizaram hidrofones, colocados em sete pontos no fundo do mar no Golfo do Alasca. Os instrumentos detectaram os sons desses mamíferos a 40 km, às vezes a uma distância ainda maior se estiverem em águas rasas. O trabalho foi publicado na edição deste mês do jornal BioScience.

É sabido que os cetáceos tem uma linguagem para se comunicar e se orientar em grupos. Mas, segundo Azevedo, para desvendar o que possivelmente dizem as baleias, será necessário conjugar estudos da emissão do sons com pesquisas sobre comportamento.