Título: Circo da mídia faz debate global
Autor: Nathalia Watkins
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Internacional, p. A12

Não são só os israelenses que estão insones, ligados 24 horas por dia na evolução do quadro de saúde do primeiro-ministro Ariel Sharon. A imprensa mundial também faz uma vigília e armou acampamento - literalmente - em frente à UTI do Hospital Hadassa Ein Keren, em Jerusalém, onde o premier está internado desde a noite de quarta feira, após sofrer o derrame cerebral que o tirou da cena política.

Tendas, barracas e palcos inteiros foram montados no local, onde, pelo menos, 100 profissionais, entre câmeras, fotógrafos, produtores e jornalistas de diversos países estão passando quase todas as horas dos últimos dias. O frio e o cansaço são ofuscados pela tensão de qualquer movimento diferente, qualquer momento em que a porta da emergência é aberta.

- Sharon é um herói, fez mudancas fundamentais ao país, figura surpreendente e muito interessante. O último da geração dos gigantes, como nós o chamamos aqui. Por isso, atrai tanta atenção - afirma um repórter de tevê israelense. Só a sua equipe conta com mais de 10 profissionais, que trabalham cerca de 10 horas por dia.

Elias Karran, correspondente da rede Al Jazira, conta que dormiu apenas cinco horas desde a noite de quarta-feira.

- As especulações são muitas, estou o tempo todo ligado no que sai de oficial, de dentro do hospital. Mas é claro que o meu grande foco é o futuro político de Israel em si e os desdobramentos que isso pode ter para o processo de paz - explica ao JB, enquanto recebe uma entrega de pizza.

Já o correspondente da rede CNN na Turquia Murat Utku acredita que especulações e até mesmo manipulações são feitas a todo o momento pela falta de atualizações oficiais mais freqüentes, e culpa também às rádios:

- A imprensa aqui, especialmente a israelense, dá muita atenção ao rádio. Quando um pequeno mal-entendido ou algum comentário indevido vai ao ar, o boato se alastra rapidamente. Por isso, tenho muito cuidado antes de passar alguma informação daqui - explica.

Quanto ao teor das transmissões, o jornalista diz que Ariel Sharon ''não é muito popular'' no país, mas que foi um político que lutou, fez oposição ao próprio partido e avançou. Por isso, segundo sua avaliação, merece tanto destaque agora.