Título: Família espera notícias
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Internacional, p. A16

Abalados, parentes do general Bacellar não comentaram a morte do militar. A mulher e os dois filhos receberam a notícia pela manhã e desde então não saíram de casa. Ao longo do dia, parentes e amigos estiveram no apartamento, num condomínio de militares, no Grajaú, bairro de classe média da Zona Norte do Rio. A mulher, Maria Ignez Bacellar, não tinha noção sobre o que aconteceu.

- Não vou falar sobre isso hoje, nem amanhã, nem nunca. Somente o Exército vai falar - disse.

Os dois filhos do general, Rodrigo e Mariana, de 31 anos, estudam e moram em Newport Beach, Califórnia (EUA). Ambos vieram para o Brasil passar o fim de ano com os pais, e chegaram no Natal. Os quatro se encontraram no Rio - Maria Ignez veio de Brasília e o general Urano do Haiti. O comandante embarcou de volta para Porto Príncipe no dia 2, depois de assistir à passagem do ano na Avenida Atlântica. Vizinhos informaram que o apartamento do Grajaú era usado nas férias e nas temporadas de verão.

- Era uma família tranqüila. A Maria Ignez vinha de vez em quando, desde que se mudou para Brasília, com mais freqüência do que os outros - informou uma moradora do prédio, sem se identificar.

Depois da visita de uma comitiva do Comando Militar do Leste, por volta das 16h, que levou um capelão, o coronel Aroldo de Souza Afonso chegou ao apartamento no início da noite e conversou com a família, que estava aflita por informações sobre as circunstâncias da morte. De acordo com o militar, a autópsia foi feita no Haiti e acompanhada por militares brasileiros.

O corpo do general Urano deverá ser transladado para o Brasil ainda hoje, quando parte de Brasília, às 10h, uma missão oficial do governo brasileiro encarregada de acompanhar a apuração. Integram o grupo o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, peritos e especialistas. A determinação partiu do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que viajou às pressas do Rio para uma reunião com na qual estava ainda o vice-presidente José Alencar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota lamentando a morte e elogiando a atuação do comandante na missão.

- Nada do que tenhamos ouvido poderia prever o que aconteceu na hipótese de ser suicídio - declarou Amorim, que conversou, ao longo do dia, com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.

Militares no Haiti contaram que Bacelar havia participado de uma cerimônia de entrega de medalhas na véspera de sua morte e parecia tranquilo.