Título: Suspeitas cercam morte de general
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Internacional, p. A16

O general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar, comandante militar da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), foi encontrado morto ontem em seu quarto de hotel em Porto Príncipe. Embora a suspeita recaia sobre suicídio, assassinato ou acidente não são descartados. Autoridades das Nações Unidas disseram que Bacellar, 58 anos, teria se suicidado no hotel Montana com um tiro na cabeça. O tenente coronel Fernando da Cunha Matos, assessor de informações públicas da força brasileira, não foi tão decisivo. Informou que o general morreu em um ''acidente com arma de fogo''. Num comunicado oficial, a Minustah declarou que ''as circunstâncias da tragédia serão investigadas com afinco''.

A arma foi encontrada próxima ao corpo. As primeiras imagens de televisão mostraram o brasileiro vestindo sandálias, short e camiseta branca, caído na varanda do quarto. Ele estaria sozinho na hora do tiro. Empregados do hotel disseram que ouviram o disparo por volta das 6h30 de sábado. Um integrante da Minustah, sem se identificar, confirmou o suicídio.

- O general disparou uma bala na boca.

Mas Damian Onses-Cardona, porta-voz da organização, afirma que as investigações determinarão o que aconteceu. O general chileno Eduardo Aldunate Herman assumiu como chefe interino da força multinacional. A missão afirmou que a morte não interromperá o processo de estabilização do Haiti.

De acordo com fontes da ONU, o corpo do general foi levado para o hospital militar, que é administrado pelo contingente argentino.

Natural de Bagé (RS), o general Bacellar assumiu suas funções no Haiti em 31 de agosto de 2005, substituindo o general Augusto Heleno Pereira. Como comandante da missão de paz, enfrentava um momento difícil, com a violência no Haiti ainda sem controle e os militares sofrendo críticas por parte dos políticos e da população locais. Em entrevista, comentou que as Nações Unidas faziam ''um trabalho cuidadoso'' para preservar os haitianos, mas reclamou que os agressores viviam de crimes e se mostravam ''insensíveis'' às tentativas de negociação feitas pela Minustah - que conta com 7.500 homens de 14 países. O Brasil tem o maior contingente, com 1.213 oficiais e soldados.

O Haiti é governado desde fevereiro de 2004 por um poder interino cuja tarefa é realizar eleições gerais. Na semana passada, porém, a data do pleito foi adiada pela quarta vez e o prazo tornou inviável a data constitucional de 7 de fevereiro. O motivo, segundo haitianos, foi a incapacidade da ONU, em função da burocracia, de ampliar o número de seções eleitorais.

Além desse fato, o crescente poderio das gangues armadas desafia a ONU. Cerca de 1.900 pessoas foram seqüestradas entre março e dezembro, 400 delas só no último mês do ano. Empresários e o governo pedem à ONU mais rigor no combate às quadrilhas que ainda controlam as favelas de Porto Príncipe. Mas grupos de direitos humanos e de esquerda brasileiros condenam a força de paz por ser muito agressiva.

Na sexta-feira, o chefe da missão da ONU, Juan Gabriel Valdés anunciou que as tropas ocupariam a favela Cité Soleil, a mais perigosa da capital. Ele declarou que os habitantes estariam em risco pelo fogo cruzado. Bacellar se opunha à idéia.

Uma fonte governamental anônima garante que já há cumplicidade entre integrantes da força de paz e grupos armados que operam no Haiti.