Título: Executivas sob pressão
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

A saúde do executivo brasileiro vai mal. A busca por metas e a competitividade no mercado de trabalho transferem cada vez mais para a medicina os males da vida moderna. A principal vítima deste quadro é o coração, sobrecarregado com uma vida sedentária, altos níveis de estresse e hipertensão arterial fora do horário comercial. Pesquisa realizada pela clínica Med-Rio Check-Up revela que 80% dos seus pacientes se alimentam mal e estão com o peso acima do ideal. O estresse ainda está presente em sete a cada dez diretores. A realidade é ainda mais cruel para as executivas. Como entraram depois no mercado de trabalho, as mulheres estão expostas a uma maior pressão no mundo corporativo em relação aos homens, dizem os especialistas ouvidos pelo JB. Além disso, são obrigadas a administrar o tempo livre com os cuidados domésticos e a atenção dos filhos. Com isso, os índices de sedentarismo, tabagismo e gastrite são maiores quando comparado ao dos homens.

O levantamento Perfil da Saúde do Executivo Brasileiro ouviu 20 mil homens, entre 30 e 75 anos, e 5 mil mulheres, entre 30 e 60 anos, nos últimos meses. De acordo com a pesquisa, cerca de 70% das executivas têm uma vida sedentária contra 65% dos homens. Elas também fumam mais. O índice feminino chega a 45% contra 35% deles. A gastrite e úlcera ataca 24% das mulheres contra 16% dos executivos.

Na avaliação de Gilberto Ururahy, diretor da Med-Rio Check-up, a exposição permanente a doses exageradas dos hormônios gerados pelo estresse, como adrenalina e cortisol, provoca uma série de doenças como aumento de pressão arterial, taquicardia, baixa imunidade e úlceras.

¿ Sobrecarregado, o coração sofre e demanda os sintomas do resto do corpo. O nível de estresse, antes comum apenas nos homens, já atinge 40% das mulheres. A Sociedade Brasileira de Cardiologia, por exemplo, alerta para uma epidemia de enfartes em mulheres jovens ¿ afirma Ururahy.

Maria Claudia Oliveira, executiva de uma empresa do setor pretolífero, de 44 anos, viu que havia algo errado quando começou a sofrer com gastrite, fruto de uma rotina que começa às 8h da manhã e não tem hora para acabar. Responsável pela administração contábil e tesouraria da companhia, ela, que se alimenta mal todos os dias, foi internada, no ano passado, com uma hemorragia no estômago, depois de três anos em um ritmo que incluia tarefas nos finais de semana e viagens internacionais todos os meses.

¿ Quando fui hospitalizada, achei que era hora de mudar. Por isso, decidi praticar aulas de dança duas vezes por semana para combater o estresse. Sempre ficava doente e não tinha tempo para me preocupar com isso. Sempre estava deprimida e irritada com tudo. Hoje, tento me organizar. Às vezes, tento ir a um salão de beleza na hora do almoço. Mas nem sempre é possível, pois supervisiono 50 funcionários todos os dias ¿ diz Maria Claudia, casada e mãe de uma filha de sete anos.

Maria Isabel Lachmann Soares, de 45 anos, presidente da Lachmann ¿ empresa que oferece serviços de logística e administração de processos em comércio exterior ¿ tenta conciliar a carreira de executiva com a difícil missão de ser mãe de quatro filhos adolescentes e ainda encontrar tempo de se dedicar ao trabalho voluntário.

Para fugir do estresse provocado pelo trabalho diário de mais de oito horas e as viagens internacionais, ela decidiu há poucos meses praticar ioga duas vezes por semana, após o horário comercial.

¿ Sempre estou preocupada com a minha saúde. Qualquer problema compromete a produtividade de um profissional. Por isso, comecei a fazer ioga, para poder respirar em meio ao bombardeio de informações. Queria trabalhar meu equilíbrio e consciência. Fazer massagem corporal também ajuda ¿ diz Maria Isabel.

Ela ainda se dedica ao trabalho social na ONG Junior Achievement do Rio de Janeiro ¿ com trabalhos voltados para o empreendedorismo.

¿ É importante você ter a consciência de ser, de alguma forma, útil para a sociedade. Isso me dá uma noção de trabalho em equipe e de valores ¿ completa Maria Isabel, que comanda 750 colaboradores.