Título: Dividendos da prevenção
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2006, Economia & Negócios, p. A18

Diante desse quadro, as empresas já dão sinais de que estão preocupadas com a saúde de seus funcionários. Prova disso é o aumento na procura por check-ups nos consultórios médicos. De acordo com os cálculos do médico Gilberto Ururahy, o número de análises na Med-Rio subiu 40% em 2005. Do total de atendimentos realizados, 70% foram feitos a pedido das grandes companhias.

- É importante a empresa estar ciente da saúde dos seus funcionários. Um executivo estressado tem sua produtividade comprometida e, com isso, o andamento da empresa - diz Ururahy.

Loreni Carvalho, diretora da área de assistência e gestão de Recursos Humanos da KPMG Brasil, endossa os argumentos de Ururahy. Para ela, substituir um profissional doente por outro é algo difícil nos dias de hoje.

- Ninguém quer um profissional desmotivado dentro de uma empresa. A demanda é tão alta que até chegar ao trabalho pode se tornar uma atividade estressante. Por isso, os almoços dentro do escritório no meio da tarde e a falta de exercícios causam impacto no dia-a-dia de um profissional. Por isso, organização é fundamental - diz Loreni.

Foi o que fez Loester Fragoso, com 58 anos, presidente da Aladdin - líder nacional no segmento de garrafas térmicas. Depois de 28 anos no comando da Cisper, maior empresa de embalagem de vidro do país, e uma crise de hipertensão arterial, percebeu que sua saúde estava no limite e tirou férias. Foi para Europa descansar com a esposa. Há dois anos dirige a Aladdin. Apesar de trocar de emprego, hoje, a rotina pesada de mais de 12 horas de trabalho e viagens ao exterior, é mais bem administrada - com exercícios físicos durante as manhãs. Formado em administração com especialização em finanças, Fragoso comanda cerca de 550 funcionários de uma companhia que fatura mais de R$ 70 milhões por ano.

- Hoje, tento me policiar diariamente para evitar uma nova crise. Tenho um café-da-manhã equilibrado com frutas e faço exercícios, para manter meu peso. Já passei por vários problemas e tive que ser medicado. Era um ritmo de mais de 15 horas de trabalho e fui obrigado a parar - lembra.

Para ele, o mais difícil é administrar o pouco tempo que resta no convívio com a esposa e os dois filhos.

- É uma dificuldade equilibrar o trabalho e a família. Em algum momento, alguém vai sofrer, já que a família é a base da vida de qualquer pessoa.

Fragoso faz parte dos 19% dos executivos que sofrem de hipertensão, de acordo com a pesquisa Perfil da Saúde do Executivo Brasileiro. No caso das mulheres, o índice é de 12%. O fumo é outro algoz do coração. Mais de 20% dos executivos têm alguma doença pulmonar obstrutiva. Entre as mulheres, o percentual atinge 18%. Cerca de 100 mil brasileiros morrem por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer. O tabagista tem quatro vezes mais chances de desenvolver enfarte agudo do miocárdio do que o não fumante.

Pesquisa realizada pelo Grupo Catho pela Internet, em todo o Brasil, entre os meses de maio e julho de 2005, com 31.190 executivos, detectou que os homens de negócios com cargos mais elevados como diretores e gerente geral dentro das companhias são os que mais fumam por dia. O índice é de 11,83 vezes por dia contra 11,26 vezes de um diretor e 9,81 vezes de um gerente.

Outro problema é a obesidade, que aumenta o nível de gorduras circulares. O mal já atinge 25% dos homens e 20% das mulheres. Para Ururahy, quando um executivo mostra sinais de estresse, alguns sintomas são evidentes até em casa.

- A insônia é consequência de alguma coisa que está errada. Afeta 26% das mulheres e homens executivos. A fadiga atinge 15% nos dois casos também - ressalta Ururahy.