Título: Desgaste na conta de Aldo e Renan
Autor: Sergio Duran
Fonte: Jornal do Brasil, 09/01/2006, País, p. A3

O período de boa vida dos deputados e senadores só deve acabar no início da semana que vem, completando um mês de ociosidade durante o período de convocação extraordinária milionária. Os parlamentares devem prosseguir esta semana o trabalho da CPI dos Correios. O Conselho de Ética promete hoje iniciar nova fase de depoimentos. Alguns parlamentares já discutem o ônus de uma convocação que vai custar R$ 100 milhões ao contribuinte e deve representar um desgaste jamais visto na imagem do Congresso.

De antemão, deputados e senadores creditam todo o ônus da convocação extraordinária desastrada aos presidentes da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Foram eles que assinaram o ato convocatório de dezembro a fevereiro, mas dispensando a realização de sessões plenárias entre 16 de dezembro e 13 de janeiro. Como o dia 13 é sexta-feira e poucos deputados e senadores trabalham na segunda, a fase de plenário da convocação só começaria na terça, dia 17.

- O erro foi das presidências, que convocaram para o dia 16 de dezembro e fixaram que só funcionaria dia 16 de janeiro. A responsabilidade é de quem convoca. Houve um erro e é necessário assumir porque provocou desgaste - ataca o senador Álvaro Dias (PMDB-PR).

Para o parlamentar, a fórmula da convocação em si ''esvazia o Congresso''. Presente em Brasília, Álvaro afirmou que vai ao Senado, mas não há como trabalhar. Vários locais, inclusive o plenário, estão trancados. Álvaro Dias acha que os estragos são muitos para a imagem já arranhada do Congresso.

Uma das poucas alternativas para tentar reverter o desgaste, diz o senador, é aprovar logo o projeto que reduz o prazo do recesso parlamentar e acaba com o ônus financeiro da convocação. O senador acha ainda que é necessário não generalizar. Ele afirma que Aldo e Renan terão de propor uma agenda ''bem positiva'' para a votação. Aldo e Renan estavam ontem com seus celulares desligados.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) também credita o não funcionamento do Congresso à fórmula empregada pelos presidentes da Câmara e do Senado. Ideli chega hoje a Brasília para ajudar na tomada de depoimentos da CPI dos Correios, em sistema de revezamento com outros parlamentares.

- A convocação já foi feita nesta lógica de não funcionar nada de efetivo antes do dia 16. Na queda de braço do Aldo com o Renan, saiu essa coisa esdrúxula - lamenta Ideli.

Em ''termos funcionais'', diz a senadora, a lógica da convocação ''é absurda''. Ideli afirma que o Congresso está tomando ''bordoadas'' há um mês por conta da fórmula de Aldo e Renan. Para ela, ''estava claro'' que nada ia ser aprofundado antes da próxima semana.

- Não teremos nem sessão 'falativa', quanto mais deliberativa - ironiza Ideli.

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), o desgaste do Congresso só poderá ser superado com muito trabalho. A grande falha, diz ele, é a inexistência de um cronograma de trabalho para o período sem sessões deliberativas. Fruet, no entanto, cobra ação mais rígida de Aldo Rebelo, em torno de uma agenda de votações.

- Ele terá que ser firme, chamar os líderes e retomar o trabalho - afirma Fruet.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) prefere socializar a culpa pelo fracasso da convocação. Ele não vê mais como reverter o enorme desgaste do Congresso e alerta que a culpa não é só de Aldo e Renan.

- Todos nós devemos assumir o ônus. Se eles são os culpados de convocar, somos culpados de não conseguir impedir. Se tivéssemos feito um um protesto, não teria acontecido isso - afirma Cristovam.

O senador - que deixou o PT após as denúncias envolvendo o partido - acha que o desgaste maior começa com o mensalão, passa pela dificuldade em votar durante a convocação e desmorona com a falta de qualidade intelectual dos debates.

- É um debate vazio. Se você espremer o debate este ano, só vai ver acusações e contra-acusações - lamenta Cristovam.