Título: Suicídio de militar ganha força
Autor: Hugo Marques e Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 09/01/2006, Internacional, p. A8

A primeira informação que o governo brasileiro recebeu de autoridades que investigam a morte, sábado, do general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar - comandante militar da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) - é que os indícios realmente apontam para o suicídio. Ontem, um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira saiu às 12h40 de Brasília e chegou à noite a Porto Príncipe. No vôo estavam uma equipe de oficiais do Exército, um delegado e peritos da Polícia Federal e um analista da Agência Brasileira de Inteligência, além de representante do Ministério Público Militar. O grupo vai acompanhar as investigações abertas no Haiti.

O grupo desembarcou em um país sob tensão crescente, apesar de o secretário-geral do Conselho Eleitoral Provisório (CEP), Rosemond Pradel, ter confirmado que as eleições presidenciais e legislativas no Haiti, adiadas quatro vezes por problemas de organização, acontecerão em 7 de fevereiro. Um segundo turno está previsto para 19 de março e o presidente eleito tomará posse em 29 de março. A votação municipal será em 30 de abril. A razão do clima complicado na capital está na ordem do chefe da missão da ONU, Juan Gabriel Valdés, ter ordenado ao contingente militar a ocupação de Cité Soleil, a maior favela da capital. Antecipando a operação, soldados brasileiros já circulavam pelas ruas acompanhados de informantes disfarçados de militares.

A comitiva brasileira acompanhará a investigação das Nações Unidas. O general foi encontrado no quarto de hotel, com um tiro na boca. Segundo o Exército, a morte teria sido causada por ''acidente''.

- A notícia é que teria ocorrido o suicídio. Mas é um país numa situação complicada - diz o delegado Paulo Lacerda, diretor da Polícia Federal, alertando que as as informações oficiais ainda ''são muito superficiais''. O delegado escolheu o coordenador-geral de Defesa Institucional da PF, delegado Wilson Damásio para seguir até o Haiti.

- Em se tratando de uma autoridade importante da missão de paz, é comum que um grupo verifique se os procedimentos estão corretos e não deixe dúvidas - disse Lacerda.

Apesar da possibilidade de suicídio, a equipe deseja descartar quaisquer dúvidas sobre a morte do general.

- Na questão de suicídio ou homicídio, muitas vezes a linha fica tênue. A equipe não fará nenhum novo exame, mas vai assegurar às autoridades brasileiras que o procedimento feito localmente foi adequado. - afirma o diretor-geral da PF.

Uma cerimônia em homenagem ao general Urano será realizada hoje no QG da Minustah. No Haiti, o chefe de Comunicação da força, David Wimhurst, disse ao Jornal do Brasil que o corpo deve ser trazido para o Brasil logo depois, sinalizando que as investigações já são conclusivas. Apesar disso, Wimhurst preferiu não confirmar a hipótese de suicídio. Wimhurst disse que a Minustah ainda não discute nomes para substituir o Bacellar.

O Itamaraty confirmou que a missão brasileira no Haiti será mantida. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse à ONU que o Brasil deseja e está preparado para continuar.