Título: Nova cirurgia, às pressas
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Fonte: Jornal do Brasil, 07/01/2006, Internacional, p. A9

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, foi novamente operado ontem para conter uma terceira hemorragia no cérebro. Permanece em estado grave, porém estável.

- Durante a cirurgia, a pressão craniana foi amenizada e alguns coágulos sanguíneos que ficaram da intervenção anterior foram drenados. Ao final da operação, não havia mais sangramentos - comemorou o médico Shlomo Mor-Yosef, diretor do hospital Hadassah, em Jerusalém.

Ele explicou que uma tomografia no cérebro de Sharon mostrou ''melhora significativa''. No entanto, o chefe de governo israelense continua entre a vida e a morte, em coma profundo induzido pelo menos até amanhã.

- O cenário mais lógico é nem tentarmos acordá-lo. A sedação é muito importante, tem o objetivo de baixar a necessidade de oxigênio para o cérebro e permitir que o órgão descanse - justificou Shmuel Shapira, vice-diretor do Hadassah.

Sharon teve que ser levado às pressas para a sala de cirurgia na manhã de ontem, depois que uma tomografia computadorizada mostrou um novo derrame e aumento incessante da pressão intracraniana.

- Posso dizer que, depois desta intervenção, as imagens que obtemos do cérebro do paciente são bem melhores do que as anteriores - acrescentou Mor-Yosef.

O aumento da pressão intracraniana e a expansão do lóbulo são causados pelo entupimento do cérebro por algum tipo de obstáculo - um sangramento, por exemplo.

- O bloqueio danifica o funcionamento cerebral. É fatal, deve-se lidar com ele com a máxima urgência - explicou o médico Yair Lampel, vice-diretor do departamento neurológico do Hospital Beilinson.

Sharon sofreu um derrame intenso, com hemorragia generalizada no cérebro, no fim da noite de quarta-feira e foi submetido a uma operação que atravessou a madrugada: durou sete horas. A de ontem - num período de cinco horas - foi a segunda, em apenas dois dias. Os médicos já o haviam colocado em coma induzido para dar tempo para seu corpo se recuperar. Mesmo assim, especialistas de fora do hospital Hadassah afirmam que as chances de recuperação são ínfimas.

- O fato de o sangramento ter voltado depois da primeira operação é um sinal significativo de deterioração cerebral - afirmou Yonathan Halevy, médico-chefe do Hospital Shaarei Zedek, em Jerusalém - que não está tratando do premier.

Outros especialistas acreditam que a hemorragia do derrame pode ter levado a uma interferência da drenagem do fluido espinhal no qual o cérebro está imerso. Outra possibilidade é Sharon ter desenvolvido inflamação ou o fluido estar escoando para dentro da massa cerebral.

Fontes no hospital confirmam que o termo médico para o quadro de Sharon é de ''hidrocefalia severa'', uma complicação esperada quando acontece um acidente vascular cerebral (AVC) tão grande.

- A primeira operação já foi heróica. A maioria dos pacientes sequer vai para a mesa de cirurgia neste estado - disse Mor-Yosef.

Os médicos no Hadassah preferiram não elaborar um prognóstico para o premier. Mas um assessor de seu aliado político, Shimon Peres, afirmou que a situação ''não é boa''.

A funcionária do hospital Svetlana Kremitsky, cujo trabalho é levar a comida para os pacientes que estão na mesma ala que o político, sustenta que todos estão muito preocupados.

- A tensão é quase palpável - contou.

O derrame de quarta-feira foi o segundo de Sharon. Em 18 de dezembro, ele teve um acidente vascular cerebral moderado, causado por um coágulo que passou por um pequeno buraco em seu coração. Na noite em que teve o novo AVC, o premier se preparava para se submeter a uma cateterização para fechar o orifício. Também estava tomando um remédio que tornava o sangue mais fluido, para não formar coágulos. A perda de poder de coagulação é apontada por alguns médicos como a possível causa da intensa hemorragia desta semana.

Desde a quarta, os filhos de Sharon, Omri e Gilad, estão ocupando um quarto ao lado daquele do pai, na unidade neurológica de tratamento intensivo.