Título: Estudantes declaram guerra contra o aumento do ônibus
Autor: Cristiane Madeira
Fonte: Jornal do Brasil, 07/01/2006, Brasília, p. D1

O que começou como uma manifestação pacífica contra o aumento de, em média, 21,5% no valor das passagens de ônibus do Distrito Federal, virou uma guerra onde policias militares e estudantes se enfrentaram por mais de duas horas na Rodoviária do Plano Piloto. O saldo não foi dos melhores. Além de lançamento de bombas de efeito moral, vidraças de ônibus foram quebradas e três pessoas acabaram detidas. Um tumulto se formou depois que os manifestantes bloquearam as principais vias de acesso à plataforma inferior da Rodoviária. Algumas pessoas ficaram machucadas com a confronto e a correria, como o estudante de psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Abdon Sardinha da Costa e Silva, de 20 anos, agredido com uma uma espada por um oficial da cavalaria. Mostrando as marcas nas costas, ele conta que estava ao lado de um manifestante quando começou uma discussão.

- O policial veio para cima de mim e do outro cara com o cavalo e nos bateu. Esse tumulto não era necessário, esse não é a finalidade do movimento. A polícia também não precisava agir assim. Tudo virou uma desordem - analisou.

Trânsito -O transtorno no trânsito foi inevitável. Quem tentava passar de carro era obrigado a desviar por outros caminhos. E os estudantes escolheram o horário de maior movimento. Esperaram até às 18 horas para bloquear as pistas e impedir a saída dos ônibus, impedindo centenas de trabalhadores de voltar às suas casas.

O aumento das passagens, anunciado na última semana, foi considerado abusivo pelo Movimento Passe Livre (MPL), responsável pela manifestação. De acordo com um dos líderes, Higor Sávio, o objetivo é manter os protestos até que o governo recue e baixe as tarifas.

- Temos a passagem mais cara do País e não há retorno para a população e nem para os trabalhadores rodoviários - disse.

O vice-presidente da Associação dos Usuários de Coletivos e Alternativos do DF, Vidal Guerra, presente na manifestação em apoio aos estudantes, diz que a entidade já entrou com uma ação na justiça contra o governo pelo aumento.

- Ninguém está contente com o reajuste. Essa situação só vai estimular a pirataria, que é a pior alternativa para quem precisa de transporte público - afirmou.

O secretário-adjunto de Transportes, Januário Lourenço, disse que a guerra na rodoviária é responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública.

- Os manifestantes não tiveram diálogo com o governo e estão agindo por conta própria. Só a partir de segunda-feira que poderemos analisar todas as questões - informou.