Título: Câmara detona o Carnaval do DF
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 07/01/2006, Brasília, p. D3

A festa de Carnaval do DF está ameaçada. A decisão da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof) da Câmara Legislativa de reduzir em 78% os recursos para o evento pode fazer com que o Carnaval deste ano se torne um grande fiasco. A proposta da Secretaria de Cultura era de repetir e até ampliar o sucesso da festa realizada na Ceilândia no ano passado. Entre as 60 atividades previstas para todo o DF no período de 25 a 28 de fevereiro, a festa da Ceilândia era a principal aposta da Secretaria de Cultura. Para ser realizado como previsto, o conjunto de atividades do Carnaval foi orçado em R$ 2,490 milhões. A Câmara, no entanto, liberou apenas R$ 544 mil, a partir da aprovação unânime da emenda proposta pelo deputado Leonardo Prudente (PFL/DF), presidente da Coef.

- Estamos estarrecidos com a iniciativa do deputado Leonardo Prudente de dilacerar o orçamento do Carnaval. Devido ao sucesso do ano passado, que levou mais de 300 mil pessoas para ver o desfile das Escolas de Samba, estávamos preparando o Carnaval mais bem estruturado que já houve em Brasília - afirmou o secretário de Cultura Pedro Borio, indignado.

O governo garante que buscará uma solução de emergência para que a festa do Carnaval não tenha o mesmo destino do Reveillon da Esplanada dos Ministérios. Segundo o secretário de Cultura os recursos previstos pela Câmara inviabilizam a realização do evento.

- Vamos tentar achar uma saída para não punir a população. A possibilidade de cancelamento não está em cogitação. Faremos este carnaval de qualquer jeito, mas com a redução do orçamento os projetos previstos estão em risco. O Carnaval de Ceilândia é nossa prioridade - disse Borio.

A maior preocupação do governo é o prazo apertado. Em reunião entre os dirigentes das Escolas de Samba e o governador Joaquim Roriz, realizada em 21 de dezembro, ficou acordado que os recursos para o Carnaval seriam repassados em três parcelas. A primeira seria depositada até 15 de janeiro, a segunda, até 5 de fevereiro e a terceira até 15 de fevereiro.

Indignação - A revolta dos representantes do governo e dos dirigentes das Escolas de Samba levou a especulações sobre o motivo pelo qual o deputado Leonardo Prudente teria proposto a emenda ao orçamento.

Entre os motivos levantados está o fato do administrador da Ceilândia, Rogério Rosso, ser pré-candidato a deputado, assim como o presidente da Ceof. A preferência religiosa de Prudente, evangélico, também teria interferido na decisão.

- Se fosse questão de preconceito religioso eu teria tirado todo o recurso para a festa, e não fiz isso. Não misturo política com religião. Com relação à administração da Ceilândia, a Câmara Legislativa apóia e prestigia a atual gestão, tanto que aumentou em 130% o orçamento previsto para aquela Região Administrativa - defendeu-se Leonardo Prudente.

Segundo o deputado, o único motivo para a proposta de corte no orçamento foi a comissão ter considerado o valor excessivo.

- No ano passado a festa foi orçada em R$ 500 mil. Apenas mantivemos o valor. O que foi pedido é excessivo e a comissão entendeu que o dinheiro seria melhor aplicado na saúde que no Carnaval - disse o deputado. Os R$ 1,946 milhões previstos para a festa seriam destinados à construção de dez postos de saúde.

Frederico Pereira, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de Brasília, afirmou que o argumento é demagógico, uma vez que a saúde tem orçamento específico.

- O Carnaval deve ser patrocinado pela iniciativa privada. Se o projeto for bom, o empresariado vai injetar verba independente dos recursos do governo - garante Prudente, citando os exemplos das festas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Rogério Rosso, diz que esta é a intenção dos organizadores do evento, que a festa seja auto sustentável no futuro. No entanto, para se consolidar, é preciso ter o apoio do governo nos primeiros anos.

- O governo investiu R$ 2 milhões no Carnaval no ano passado. Nós pedimos R$ 2 milhões, pois é isto que a festa custa. Na proposta de orçamento este valor estava determinado e se o deputado diz o contrário é mentira. Além disso, ele poderia ter consultado a Secretaria de Cultura antes de dizer que o orçamento é excessivo - afirmou Paulo Fona, porta voz do GDF.