Título: Movimento leve anima médicos
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Fonte: Jornal do Brasil, 10/01/2006, Internacional, p. A7

Premier Ariel Sharon mexe a perna

JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, começou a respirar por conta própria e se movimentou ligeiramente ontem, mas continua em estado crítico numa etapa essencial do tratamento que é a saída do coma induzido. Após a retirada dos anestésicos, será possível avaliar os danos provocados pelo acidente vascular cerebral sofrido pelo líder na semana passada. O diretor do hospital Hadassah, Shlomo Mor-Yosef, disse que, embora as reações de Sharon sejam ''cada vez mais significativas'', ele continua inconsciente.

- Não podemos dizer que ele está fora de perigo - disse o neurologista Felix Umansky, acrescentando que Sharon não abriu os olhos desde que sofreu o derrame, há seis dias.

Já o diretor do hospital afirmou que Sharon já respira sozinho:

- Ele ainda está conectado aos respiradores que o ajudam, mas está respirando espontaneamente - disse Mor-Yosef. - Este é o primeiro sinal de algum tipo de atividade no seu cérebro - completou.

Posteriormente, o médico disse que o premier reagiu a estímulos à dor, levantando o braço e a perna direitos. Novos exames devem ocorrer nos próximos dias.

O processo de retirar Sharon da sedação é importante para avaliar até que ponto suas faculdades foram afetadas e suas chances de sobrevivência. Mas especialistas dizem que não há garantia de que ele saia da anestesia. Os médicos de Sharon dizem que há boas chances de que sobreviva, mas é consenso que não terá condições de retomar a carreira política, uma arena que ele dominou como ninguém desde David Ben-Gurion, primeiro-ministro na época da criação de Israel.

A perda de Sharon, que despertou expectativas de paz ao retirar colonos de Gaza em setembro, após 38 anos de ocupação, cria um vazio no processo de paz do Oriente Médio.

Sharon está sendo mantido em coma desde quarta-feira, quando sofreu uma cirurgia para conter a hemorragia cerebral. Se, após os exames, os médicos declararem que Sharon está incapacitado, entregarão um laudo ao procurador-geral de Israel. O gabinete então terá de escolher um novo primeiro-ministro entre os ministros do novo partido de Sharon, o Kadima, que também sejam parlamentares. O vice, Ehud Olmert, que já ocupa o cargo interinamente, deve manter-se à frente do governo até as eleições de 28 de março.

Na reunião ministerial de domingo, transmitida pela TV, Olmert tentou passar um clima de normalidade. O mesmo tom dominou a entrevista coletiva subseqüente, na qual ele prometeu manter a estabilidade econômica.

Sentando-se ao lado da cadeira reservada a Sharon no gabinete, Olmert prometeu ''gerir os assuntos como ele desejaria''. Os políticos israelenses, normalmente ávidos por polêmicas, vêm observando uma moratória nas suas disputas.

Líderes mundiais prometeram apoio a Olmert, de 60 anos, que já foi prefeito de Jerusalém. Sharon é odiado no mundo árabe, mas cada vez mais considerado no Ocidente o responsável por novas perspectivas de paz. Ele sofreu o derrame num momento crucial, quando fazia campanha pela reeleição.

O primeiro-ministro palestino, Ahmed Qurie, estimou melhoras a Sharon. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse a jornalistas que não deve haver grande impacto no processo de paz.

- Não acho que haja uma mudança drástica na política israelense exceto pela mudança de pessoa - afirmou.

Mas, refletindo a antipatia contra Sharon após cinco anos de rebelião, dezenas de militantes palestinos saíram às ruas da cidade de Gaza gritando ''morte a Sharon'' e queimando uma foto dele.