Título: Muito voto e pouca atenção
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 11/01/2006, País, p. A3
O estado que deu 80% de seus votos para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva não teve recompensa à altura do presidente eleito. A previsão de gasto dos R$ 13,5 bilhões de restos a pagar do Orçamento da União do ano passado deixa o Rio com apenas R$ 394,8 milhões. O número é 119% menor que o que será investido em Minas Gerais, que terá R$ 867,4 milhões. O levantamento sobre os investimentos foi feito no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), pela associação Contas Abertas, a pedido do Jornal do Brasil. Os dados mostram que o Rio ficou em sétimo lugar nos investimentos distribuídos pelo governo federal nos estados. ¿ Este fato comprova o que tenho dito há muito tempo. O governo federal discrimina o Estado do Rio por questões políticas, pura mesquinhez ¿ criticou a governadora Rosinha Matheus (PMDB), mulher do pré-candidato a presidente pelo PMDB, o ex-governador Anthony Garotinho. Segundo a governadora, o Rio é a segunda unidade da federação em arrecadação de impostos federais, atrás apenas de São Paulo, e haveria um ¿disparate¿ entre o que o estado arrecada e o que vai receber em investimentos federais.
O Rio ficou atrás ainda de outros estados governados pela oposição, como no caso da Bahia de Paulo Souto (PFL), que vai receber R$ 661,8 milhões. Na verba para a Bahia, estaria embutido o interesse em eleger o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, governador em outubro.
Responsável pela metade do PIB brasileiro, São Paulo ficou em terceiro lugar na fila, com R$ 558,8 milhões. Maior eleitorado brasileiro, o estado é hoje reduto eleitoral dos tucanos, o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmim, dois dos principais adversários de Lula nas próximas eleições.
O Ministério do Transporte, recordista na distribuição dos investimentos federais, vai gerenciar R$ 3,3 bilhões, mas o Rio só receberá R$ 32 milhões da verba (0,9% do total). Os investimentos em transporte englobam construção e recuperação de rodovias, portos e ferrovias, entre outras obras e não apenas operações tapa-buracos.
De novo, Minas Gerais foi o estado mais beneficiado com o orçamento do Transporte, com R$ 341,7 milhões, 10 vezes a mais que o Rio. Tocantins será contemplado com R$ 231 milhões, mais de sete vezes o que o Rio receberá.
O levantamento feito no Siafi compreende todas os recursos dos chamados restos a pagar do ano passado, somados com a verba ainda não utilizada de anos anteriores. Juntas, estas rubricas somam R$ 13,5 bilhões. Os dados do Siafi foram atualizados dia 7. Os técnicos explicam que podem ocorrer pequenas correções, mas não mudanças bruscas nos números dos investimentos. A assessoria do Ministério do Planejamento informou que os restos a pagar são de R$ 11,5 bilhões. Foram adicionados, no entanto, os recursos empenhados em anos anteriores, no total de R$ 13,5 bilhões.
Sobre o fato de o Rio ter ficado na sétima colocação nos investimentos, a assessoria do ministério disse não ter tido condições de conferir os dados, uma vez que isso demandaria mais de um dia para realizar a pesquisa. Em três anos de governo, os investimentos da União passaram ao largo do estado a ponto de o governo estadual lançar campanha aberta, acusando Lula de maltratar o Rio.
Para rebater as críticas e correr contra o tempo em ano eleitoral, o governo Lula espalhou outdoors pela capital exaltando programas sociais e de infra-estrutura federais, principalmente nas regiões mais carentes, e prepara grande evento para anunciar o aporte de R$ 100 milhões para a Baixada Fluminense, onde estão 4 milhões de votos.