Título: Azeredo e Queiroz na mira da CPI
Autor: Karla Correia e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 10/01/2006, País, p. A2

BRASÍLIA - Se depender da CPI dos Correios, a lista de parlamentares cassados ou sob investigação devido ao escândalo do mensalão ganhará mais dois nomes. Um deles é o senador Eduardo Azeredo (MG), que deixou a presidência do PSDB depois de vir a público a informação de que Marcos Valério Fernandes de Souza repassou recursos de caixa dois para a campanha do tucano ao governo de Minas Gerais em 1998. Segundo integrantes da comissão, o PSDB aceitaria submeter o mandato dele à guilhotina. O outro nome é o do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG). Ele é o primeiro, e por enquanto único, beneficiário do esquema operado por Marcos Valério e PT absolvido no plenário da Câmara. Já estão sendo colhidas novas evidências de irregularidades. As pistas chegaram à comissão pelas mãos de um colega de partido de Queiroz, o deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Autor da primeira denúncia pública sobre o mensalão, Jefferson relatou a integrantes da CPI dos Correios suposto esquema de corrupção no governo que teria a participação de Queiroz. O pedido de cassação de ambos os parlamentares será apresentado em breve. No caso de Queiroz, a expectativa é que a reação popular à sua absolvição funcione como argumento, levando parlamentares a serem mais severos em futura votação. A dúvida é se haverá tempo suficiente para votar os relatórios. ¿ Faremos nossa parte. A CPI não tem poder para obrigar os parlamentares a comparecer ao plenário ¿ diz um peso pesado da comissão.

Ele acrescenta que o PSDB já concordou em sacrificar o mandato de Azeredo. Os tucanos teriam reconhecido que não dá para vencer a disputa política por ¿dez a zero¿. Todos os partidos terão de sangrar. Uns mais, outros menos. Em conversas reservadas, parlamentares do PSDB reconhecem que aceitam a punição a Azeredo. Há insatisfação com o fato de o senador ter dito, quando se tornou público o uso de caixa dois em sua campanha, que ¿desconhecia o empréstimo feito pela agência DNA no Banco Rural¿, fonte dos R$ 9 milhões repassados.

Depois, Azeredo afirmou que ficou sabendo do empréstimo quando foi cobrado por Marcos Valério. O tesoureiro de campanha do senador em 1998, Cláudio Mourão da Silveira, lançou dúvidas sobre a versão apresentada. Em depoimento à Polícia Federal, Silveira declarou que Azeredo recebeu Marcos Valério para discutir dívidas da campanha daquele ano. ¿ Marcos Valério, diversas vezes, solicitou ao declarante que obtivesse audiência com o senhor Eduardo Azeredo. Porém, as reuniões não foram bem-sucedidas para Marcos Valério, sendo, pelo contrário, conflitantes, não se chegando a um acordo sobre a dívida reclamada pelo publicitário ¿ disse o ex-tesoureiro à Polícia Federal.

¿ Não tive conhecimento prévio nem autorizei empréstimo algum para cobrir despesas da campanha, como confirmado pelo senhor Cláudio Mourão em depoimento à CPI dos Correios e à Polícia Federal ¿ defendeu-se o senador Azeredo. A Polícia Federal inicia esta semana a série de depoimentos em Minas Gerais. Os delegados federais Praxíteles Praxedes e Pedro Ribeiro se reuniram ontem com o procurador Geral da República, Antônio Fernando de Souza, para definir agenda de trabalho. A investigação conjunta do Ministério Público e da Polícia Federal vai cruzar as informações levantadas em documentos com o testemunho dos envolvidos no caso.